31 ene 2007

Em memória de Ganymédes José




Toda caminhada leva a um rumo? Todo sonho leva a uma pausa? Ou todo caminho guia a um objetivo ,o de apenas cumprir este rumo por vezes incerto , um sonho ,na verdade tido por algo internalizado, intrínseco, como o caminho o qual pretende-se seguir e assim dar algum sentido a vida.




Algo assim um tanto senso comum permeia algo além.Na simplicidade tida como mesmicie, passada muitas vezes despercebida, com alguma tenção podemos observar detalhes esplendorosos e que intocados são pelos que procuram sempre e apenas os grandes marcos da Historia. A Historia como objeo vivo e de dialogo com a Sociedade jamais deve ser pontuada pela linha cartesiana e seletiva do que é de fato 'notável , construtivo ou edificante para o progresso da humanidade'. A Historia é a versão, a visão dos fatos não só do ponto do vencedor,mas também do vencido, daquilo tornado esquecido e que sequer foi mencionado.E assim da Historia cultural a que permea a vida do individuo e assim,através desta vida ,remonta às caracteristicas de um tempo e sociedade.


Tal como a vida entra na Historia,ou o epiteto"a Vida imita a Arte"cada qual de seu trivial ou pompesco dia-dia, um mundo inteiro está, nasce, adormece e morre em cada individuo. Observo muito este movimento de mundo ,o do 'Algo focado nos detalhes ,nas interpretaçoes do burlesco tornado notório e não marco', mas, sim, valoroso pelo próprio anonimato e simplicidade de condições ,pelo existir e "Ser por existir sem pretensão alguma senão viver",por que se trata de vidas em jogo, de cotidianos e singularidades comuns que exatamente por tal individualidade são a identidade , o livro particular de cada um. E nesta divagação, a de enxergar cada vida como digna de um livro,atenho-me a um grande escritor brasileiro de nome " GANYMEDES JOSÉ", a alegria dos deuses ,ou diria, o que sempre lutou para dar uma razão e alegria aos jovens e crianças através do que aprendera com a vida.Ele mesmo dizia "Tenho de tirar de minha cabeça tudo o que ela puder dar ao mundo, porque sou agradecido a este mundo e não posso perder um único minuto em minha vida. Sou feliz e gostaria de dividir minha alegria com todos os que se dispuserem a me ler" .

Segundo seus criticos ,talvez com certa intuição de que partiria cedo, Ganymédes escreveu em ritmo de avalanche. O que fez com que a "crítica oficial" o considerasse, durante muitos anos, como um escritor menor. O que estava longe de ser verdade e o tempo se encarregou de prová-lo.Em minha modesta opinião um dos grandes nomes da literatura contemporânea no Brasil. Junto a Marcos Rey, Luis Puntel,Pedro Bandeira, Moacyr Scliar, Marcio Souza, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Érico Veríssimo,...

Pena muitas vezes seu talento passar quase despercebido por aqueles que ainda aprendem a não se restringir a uns pouquíssimos nomes. Mas isto não é novidade em um país sem uma cultura livresca desde berço e livro ainda é artigo de luxo, e mesmo os nomes dos literatos imortais como Lima Barreto, José Lins do Rego , Machado de Assis e o velho Monteiro Lobato passam resumíveis e sem grandes aprofundamentos

De tantos títulos alguns marcaram minha infância e adolescência. Ajudaram-me na percepção sobre a vida, me levaram a viagens a cidadezinhas interioranas ,principalmente cidadezinhas paulistas de tardes ensolaradas e ruas tranqüilas com moleques soltos nas ruas em sã ingenuidade, árvores ao longo das vias e outros retratos da infancia que vivi, observei ou idealizei...E assim tornado um hábito, um diferente tipo de lazer, fui me acercando destas leituras ,verdadeiras viagens. Mas dos gibis eu guiado seria até os livros. E poderia dizer que o pontapé quanto a Ganymedes não o foi por acaso.Dr. Alan mesmo lá pelos idos dos meus oitos anos me dissera "Você pode fazer muitas coisas. E minha mãe : "Mas há restrições? Tratamento não significa restrições" ,respondeu ."Inclusive pode se tornar alguém como este escritor". Dai deu me um folhetim muito colorido , no qual anunciava quem depois viria a saber ser o Ganymédes José. Mal comprendera então a historia daquele autor do qual não me tornaria jamais semelhante, mas,sim, um admirador .Semanas seguintes eu obtinha titulos atraves de minha mãe que arrematava em sebos em nossas idas à Madureira ou a um brechó existente na passarela da Freguesia que ligaria o que aquele médico dissera.

Lembro bem eu também ainda criança , no ônibus vindo do Hospital do Coração em Laranjeiras ,ou em casa ao som de uma Radio AM e minha mãe costurando alguma roupa, ou dividindo meus comentários semi- solitários. Mas além disto, estas leituras ajudaram me na percepção da variedade das emoções humanas. Do sentimento precoce, do olhar do ponto de vista familiar, emocional , enfim e o que sempre marca Ganymedes José, o de sempre o objetivo estar pontilhado de uma busca, e ainda que não explicita, a de eterna razão para dar um sentido a vida através da afirmação quanto ao espaço em que se pertencer , a família e a aquilo que se tem ou dá valor em nossa jornada.

Particularmente gosto da escrita de Ganymédes José, desde cedo. Este autor nascido em 1936, Casa Branca( interior de SP) , foi cronista, ficcionista, poeta, advogado, professor e até mesmo ilustrador de alguns de seus livros e sem jamais deixando de ser simples ,e tudo ao longe de qualquer luz de ribalta . Ganymédes José sempre escreveu com grande vocação, praticamente, em todo estilo narrativo: policial, non-sense, humor, romântico, histórico, biográfico, paródia....E assim aprendi admirar este escritor que certa vez disse “O que escrevo é para todos os jovens- de corpo ou espírito- que ainda acreditam que o romantismo é a maior riqueza da alma” . Minha mãe, Dona Geny, incentivava a leitura e logo ganhei meus primeiros livros. E um dos títulos foi “O Rio traz,O Rio leva”(1986) Uma historia marcante para a minha infância, ainda que à época tenha demorado a lê-lo. Dentre outros títulos de Ganymédes José, os inesquecíveis “A ladeira da saudade”, “Posso te dar meu coração” (romance juvenil de desfecho surpreendente) e “Amarelinho” (um neo “Oliver Twist” brasileiro, louro, franzino, mirrado e à margem da sociedade, sem grandes perspectivas quanto ao futuro senão a simples sobrevivência.um menino pobre de um médio-grande centro urbano , à margem da sociedade tal como o seu co-irmão londrino do Séc XIX).Enfim, em 1990 ele além de "Posso te dar meu coração" , ele lançou "Adoráveis vigaristas" e "Uma luz no fim do túnel", quando então no mesmo ano partiria, fulminado por um ataque cardíaco , rumo a sua viagem particular.


A Ladeira da Saudade(Ganymédes José):

O livro que narra a historia de dois jovens que se amam acima de tudo, ate do preconceito. E tudo acontecendo na histórica Ouro preto, revivendo um atormentando um amor do século XX e uma historia de amor do séc. XVIII. O amor de Gonzaga e Dorotéia, a Marilia de Dirceu na época de Tiradentes - Este um amor de exílios, onde ela lia a poesia do seu enamorado desterrado a distante malogro em Moçambique, África. E o amor no séc. XX, Lilia, a moça moreninha, pobre e simples, enamorada pelo rapaz mais rico, branco, de classe e laços culturais diferentes. Em suma, o romance é uma expressão de amor a terra, à paixão não efusiva e leva a reviver nas mesmas ruas estreitas de pedra e casarios antigos da cidade contemporânea , o amor na época da cidade colonial. E delineia de como os sentimentos mais puros e mais ambíguos como a paixão , o romantismo, a ingenuidade e preconceito coexistem, nos espaços e podem ser repassados às gerações. excluir

O Rio traz, O Rio leva:
Outro livro de Ganymedes José--


A historia é marcante e se passa num lugar no meio do nada, um canto esquecido no mundo, mas poderia ser em qualquer canto tão próximo de nós, mas ainda assim não menos invisível e esquecido. Uma vila, sua pracinha de chão de barro vermelho e poeirento, a igreja, as plantações, a gente tão simples, o monopólio do pequeno comercio local, as pequenas intrigas da molecagem e de vizinhos, e um menino sonhador, ideólogo, pensativo, prestativo e amoroso para com as pessoas e os animais: Francisco. E para reger e controlar esta rotina, o rio. O mesmo para trazer a boa pesca e transportar as pessoas, o mesmo para levar e trazer noticias da cidade mais próxima, o mesmo que traz o medo das enchentes.

O Principe Fantasma-

Este título em parceria com Tereza Noronha é bem aventureiro.Mescla o suspense com humor.E de uma realidade ficcional Ganymedes possibilita um enredo que salta a mesmicie de um final comumente esperado.E o que parecia ser o pano de fundo que nas penultimas páginas é desmitificado ,ainda assim,surpreendendo,é concluso mas com um resultado revelador romanceado mas com o viés comico à tona.


3 comentarios:

Anónimo dijo...

Parabénspela iniciativa!!!O Ganymédes merece essa homenagem...

Anónimo dijo...

Parabénspela iniciativa!!!O Ganymédes merece essa homenagem...

Anónimo dijo...

esse cara e muito bom realmente marcou minha adolescencia as leituras do que ele escreveu. a ladeira da saudade foi um dos que mais gostei