22 feb 2009

'Benção' -21 de Fevereiro

(E no fundo tudo parece um velho tango, Tango Fugata,com Piazolla e Yoyoma)

Benção.
Seriam já ...quantos anos?
E uma mórbida idéia de pensá-la para sempre

Imortal
Algo ingênuo,mas é que a expectativa de vida de nós brasileiros tem acrescido
E ao andar pelas ruas vejo tantos
Casais de velhinhos ,e então a sensação de que poderias estar ainda aqui
Envelhecendo junto aos outros

Atravessando ano após ano
Afinal já se passam agora cinco
Seria mais um aniversário conosco

De um fevereiro de chuva na roça
De fato quase pleonasmo d’uma segunda feira
Para coincidir com o seu nome
Registrada seis meses depois
Mas a data primeva, a única lembrada por todos

Foi assim na terra do que fora
Aquela terra meio do nunca
Um valão de milagres porque tantas histórias
As coisas corriam meio que à surdina
Fazendeiros arruinados,
A gente pobre comum e imigrantes sobrevivem
Cheios de memórias
Contos, mitos e crenças quase absurdas
Dos Azelman-Garcez,Peres–Mello ,mesclados -escondidos naquele próprio mundo

Dona Geny
Como gostaria de contá-la alguma novidade
Antes da noite apontar, o céu estava amarelo .
Mas depois que seguistes, em seu dia irei chover mais outro ano
Anos e dias
Em que nada acontece
Parecem décadas posteriores a sua ida
Não há nada, pouca coisa mudou e para dizer ,assim
Não para melhor
Há a inércia,
Uma previsibilidade
Daquelas que bem a aterrorizavam

“Nada é para sempre.
Somos capazes apenas nós mesmos de mudar nossas vidas”
Sempre dizias isto

Bem verdade que não sei se há qualquer fato novo
Senão coisas que vão se tornando esquecidas, velhas ou semi-impossíveis
Mas se estivesses aqui, de fato ate mesmo do marasmo sorriríamos

Não fiz aquela viagem
Definitivamente não embarquei naquele sonho
Embora a cada noite-dia não pare de pensar nisto
E mesmo já sem amarras
Afinal ,aturdido e comum
Criei mais outras.

Nada é tão simples.
Os mesmos braços que acolhem também são braços que expurgam
Erguem fronteiras

O guri esta bem grande
O Velho na labuta com alguns novos problemas
Jamais a esquece
É, e o piá também e lutando muito
Literalmente , pois com ele vou aos fins de semana enquanto treina
Paro e ando por parte do bairro
Parece quando aqui estavas
Analizava cada coisa miúda

Cada detalhe
E como uma política fosse, mas muito emperdenida
Dizias isto e aquilo
Mal de gente simples ,mas metida a discos e livros
Como me faz falta aquela segurança tua
Parecia tornar tudo calmo e menos abrasivo
Nada era fora de seu nariz
Mesmo que não, fingia das coisas ter algum domínio

Eram coisas sobre coisas e criavas então historias
Sabia desde quando aqui pisara pela primeira vez
Os moleques caçoavam de teu nome
Mas tamanha a seriedade e ternura ,que todos a respeitavam

Mas e aquela casa?
Um lar
Era de madeira.
Telhado francês ,varanda ,pé direito alto
Colonial ,envernizado a cada ano
Dizias que era linda
Em solo carioca um estilo distinto.
Ate que veio a enchente de 66
Barcos de pesca como meios de andar pelas ruas-riachos
Era a pequena Veneza
Não há mais nada
Junto a tantas outras estórias que quem escuta, acha as impossíveis

Tio Dekin a pegou no colo.
Pequenina que era
Do interior para a capital
Miúda, até o namoro, franzina
E brava
Ah e como!
Nos anos seguintes antes de conhecer o pai
Ia a bailes
É ,ouvi comentários disto.
E posso ainda ver as raras fotos
Era uma mulher bonita
Fazia em chamar atenção
Dançando Beatles ou a jovem guarda
Naquele baile onde hoje sobra uns cacos de um decadente clube
Era um tempo dourado seu , do bairro talvez,
hoje sob este contestavel progresso e individualismo

Idealizamos o que ainda não temos
Ou imortalizamos e deixado em redoma de perfeição e grandeza quem não mais contamos
Mas seria omissão não dizê-la espiritualizada, superior a mim mesmo em muitos de seus atos e princípios
E eras interessante. Sempre tendo o que dizer, o que ensinar
Mas eras simples ,acessível.

Criança não bem entendia ainda ,mas em tantos daqueles salmos
Em sua crença rezava para afastar maus fluidos
Não comer coisa, outra
Do alfabeto que me ensinastes,letra a letra
E os hábitos juntados com os do pai...
Obrigado.
Ainda que encontre portas cerradas para este caminho
É o unico.

Mulher de sonhos...
Sempre repetiam que vias coisas que outros olhos não enxergavam
Bem como sei que previa coisas, como assim previu a própria partida
Mas fiquei sem saber do que vistes sobre minha vida
Por que sempre frisava que nada estava definitivamente escrito

Ah Olan HaEmet!
Como estas distante.
Tal como à mim , o Hermon
E o que há agora?Silencio?Noite, dia? É neve ?É Deserto?Estás ao sono,ao nada?
Ruim saber que não terei mais noticias

De ti que a tudo passava e enfrentava
Menos daquele mal a que não pode resistir
E parou o seu coração ,às 9 naquele dia

E lembro assim de tantas coisas
Junto a este pedido de abraço em meio à saudade tanta
Estamos mais sozinhos aqui
Comuns e ao mesmo tempo estranhos neste suburbio
O lugar ,não é apenas impressão minha ,está mais árido
Sim, menos conhecidos
Já não se pode ficar à toa, na calçada

O que resta da família?
Os poucos, eles continuam com os sonhos:
Sair ,mudarem-se.Casas, quintais, carros e piscina,...
Acho que somente eu mesmo que irei esquecer-me aqui
E assim vou ficando
Estas paredes, meu álibi, elas me prendem
E me testemunham o que observo
Resolvi pouca coisa
Em breve também serão já 60 meses
E de acúmulos apenas vazio
Nem lucro
Nem surpresas

E por assim tenho cada vez mais tenho buscado as montanhas
Para ausentar-me de mim e por conta disto ,em parte , do mundo
A vida estagnou enquanto que o tempo não para
Por que queria coisas grandes
Uma grande guinada.

Não prestei atenção aos detalhes
Que fizeram me perder o que pudesse ser de maior na vida
Noutras apenas desejei pouco mas ainda assim não me veio
E a vida de forma ou outra, em fastio, continua

E triste escrever uma carta
Por que a gente envelhece,e aceitando a tudo,
Sem choro algum,apenas lamentando tanto na falta de surpresas para te contar
e em tua presença cerrar os olhos e apenas desabafar:
"Benção"
E de ti escutar,
“D-us que te abençoe”

E assim saber que El'
não tem nos esquecido
´
saudades גלות‎,

1 comentario:

Anónimo dijo...

saudade da tia geni...