26 mar 2007

Cinzas

Pequeno conto sem entremeios -
Outras cinzas sobre as cinzas do 21 de Fevereiro

*Ao som de Bach , Andante in concerto para violino em fá maior II)

Telefonara inumeras vezes e nada
Nada.Nada
A dor aumentava. E os exercicios não calavam o peito que arfava.Sentiu uma leve pontada. Seguiu se um esmorecer de forças quando os musculos extenuavam se.Fraco- pensou.Insistiu.E cerrou os olhos. Agonia. Dirá ainda mais aquela tamanha saudade. E a indiferença já retratada naquele quadro. Então num esforço, sem ter cabeça para escrever algo, olhou seu mundo, sua vida . Caotico,desorganizado e sem perspecitivas. Seu sonho,apenas mais um dia apenas. Mas desejando que a ultima gota caisse tão imediatamente o dia surgisse.E em meio a noite atendo se aos exercicios,até que exangue adormeceu ali mesmo no chão duro e frio.



Quarta feira
Quarta feira
As ruas vazias , o mormaço ascendendo a alva.

Tentava em vão escrever algo. Mas era atitude nula. Pelo ato em si,pela incompreensão e reciprocidade que não poderia exigir. E de fato pela recepção que teria .Não importava a ela. Nao poderia exigi-la atenção além da que já tinha e fazia na suporta-lo.Não poderia exigi-la o mesmo sentimento ,nem poderia mesmo quere-la por perto ainda que por apenas por mais um pouco de tempo ou instantes que estendesse a sua vida

Desligou o telefone. Tinha a si mesmo. E isto o amedrotava. Mas não fora diferente a vida que passara. Inumeras vezes ladeado,mas sozinho. Cercado ,mas apenas consigo.Em meio a tantos ou outros ,mas seguia sempre sozinho nao podendo falar,ser a si mesmo. Apenas na penumbra sorrateiro, observando o mundo. Nenhum dia seria diferente. Não poderia. E aquele dia era apenas o dia de suas cinzas particulares ,enquanto recuperava o folego para talvez um dia seguinte.Suas cinzas particulares ,ludico e em luto da perda da qual não se recuperara. A cidade recomeçaria em sua rotina após os folguedos e fanfarras. E ele tambem , infelizmente,continuaria.

Depois de dizer isto uma tristeza .Ainda maior.Sim ,continuaria. A dor não o levava. Mas não cessava se nem mesmo com o impeto proprio a cansar o corpo.
O corpo extenuava se ,mas o acido latico produzido não era o suficiente para adormece-lo junto ao cansaço e quem sabe assim deixar passar aquele dai, aquelas cinzas e a dor que rasgava o peito.Arfava. Arfava e o peito ja o impedia de prosseguir tal como fora na sua ida a rua. Tivera de voltar .Tudo continuava, dia a dia. E tambem restava apenas olhar o telefone, mudo, e a vida, sem qualquer chamado .

Logo não poderia exigir de estrela que distava se cumplicidade ou reciprocidade como tinha como imaginava ser possivel. Suportaria o dia, era apenas mais um .Poderia pensar que felizmente era um a menos em sua consuetudinariedade de vida.Ele distava-se desejando estar por perto.E em seu sofrimento, parecia é causa-la alivio sem sua presença

Queria andar e não estar ali. Fugir ,esconder-se ora do impacto das alas sileciosas do campo de lápides frias, ora do imapcto das paredes daquela casa que atormentavam no, faziam no sentir velhas culpas e sentir as feridas ainda não cicatrizadas sangrarem enquanto cada minuto parecia denso pela lentidão e sofreguidão dos instantes.Tempos atras seria data de alguma alegria. Um abraço, mas agora somente saudades. Memorias que vinham acompanhadas da tristeza ante a falta, o silencio imposto pelo destino.

O dia
Tempos atras não queria imaginar segurar a tampa de um ataude. A mãe faria aniversario ali , no dia das cinzas. Mas fora-se. Deixando no com o bolo e velas imaginarias acessas enquanto o silencio e o coração doia. E vivendo o peso e sensaçao que nem mesmo o esforço que fazia a fim de extinguir lhe forças quase ao limite ,nãoo emudeceriam nas. A dor persistia.

Carnaval e cinzas. Revolvendo a poeira assoprada. E ele queria, sentia falta em escutar uma voz, e para si num gesto de carencia, um pouco egoista talvez, ter algum afago para afasta-lo de suas pesadas sensaçoes de culpas.As horas seguiam.E enquanto do oeste ansiava vir a tenue voz. A voz calando-lhe para apenas diretamente acompanhar lhe a alma junto as suas asas.
Mas a espera se fez longa.E a contento abraçou se á solidao que adentrava à porta .para abraça-lo. E a dor qual fosse em mais uma tentiva de emudece-las com esforço, sempre maior esforço, indo ao limite do que quase fosse suportavel. Um dia quem sabe, tudo se encerraria. Entraria em silencio,livre sob o peso do esforço em exaurir seu corpo como agora que deixava no ao chão frio.

Eram apenas cinzas.

A.

25 mar 2007

"Todo Carnaval tem seu fim"

Pequeno conto sem entremeios -Todo carnaval tem seu fim

“Ensaiei meu samba o ano inteiro,
Comprei surdo e tamborim.
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria.
E ela jurou desfilar pra mim,
Minha escola estava tão bonita.
Era tudo o que eu queria ver,
Em retalhos de cetim.
Eu dormi o ano inteiro,
E ela jurou desfilar pra mim.

Mas chegou o carnaval,
E ela não desfilou,
Eu chorei na avenida, eu chorei.
Não pensei que mentia a cabrocha,
Que eu tanto amei”

(Benito Di Paula - Retalhos de Cetim)


A folia era transmitida pela TV. Durante a tarde imagens no aparelho e à sua mente flashbacks de cada instante passado e a sensação única ,a de que não vivera nada daquilo. Mas tampouco se importava. Incomodava-se . Um tanto disperso, um ritmista sem ritmo, um torcedor sem rumo,um folião cambaleante, um sonhador sem sonhos, um insone com cansaço, um sujeito exausto que em vão tentava esquecer o que estivesse ao redor e apenas desejava cair em perpétuo sono. Carnaval.Clausura em meio ao festejo. Espirito atado ,desejoso apenas de estar distante de tudo aquilo.Nem incomodava-se mais, mas sim, tudo aquilo chateava-no. Não apenas o barulho, mas a percepção de tudo ali pelo aparelho de tv ou lá fora como poderia relembrar cada segundo visto,cada flash gravado em seus olhos...Cada momento somados a outros identicos mais ou menos vazios ou reflexivos.Olhou em direção a parede e a janela entre aberta. À porta,nenhum chamado. Ao telefone nenhum sonido e na vida nenhuma espera. Ergueu-se e olhou –se ao espelho...Mais um ano, mais um outro ano,reclamou a si mesmo

As marchinhas inundavam as ruas. Ultimamente fora feito um esforço de recuperação de cantigas carnavalescas antigas. Ate se empolgara cantarolando algumas. Mas os ritmos das mesmas eram diferentes. Era o mal da modernidade.Nem o passado permitiam ser mais o mesmo em identidade propria .Tal como via e olhava de soslaio, sentindo se aturdido, solitario e estranho .Carnaval. Carnaval. A epopéia dos aventureiros de romances e conquistas .As relações que se davam de forma descompromissada e efemera, apenas afimde viver prazeres naquele instantes. Não! - dizia.Era um mundo a si estranho,lascivo e um colorido ao seu olhar,um ritual monocromatico de cores artificiais, um festival de alegria passageira, frivola e pertubadora. Simplesmente por que os bailes ,as festas de ruas mesclavam um intimismo exarcebado. Gente que mal se conhecia de um hora a outra abraçados ou por qualquer lapso uma transa a mais ,ou esmurrão, golpe, um relógio e uma carteira a menos ...

Efemérides...

Confetes lançados espalhados pelas ruas e cabeças .E Vinha a chuva de papeis picados e coloridos.Sabão pressurizado aspergia se ao ar em espumas imitando neve.Traques, cabeças de nego, apitos,matracas, cornetas e muita voz humanas. Espocos de sussuros que mesclavam se ao burburinho ,ao balbucio de uma massa em extase enquanto distante, vagava ,ele,o fleneur das ruas,olhando as sacadas,as bandeirolas,a musica e aspirando só o vazio metafisico. “O ano vai passar, o ano vai passar...E minha vida não vou deixar .Vai passar ,vai passar na folia até me acabar” uns cantavam .Junto ao calor que vinha do meio da polvorosa os confestes faziam um colorido bonito sob o sol escaldante, e quando visse a chuva pior seria para os serviçais de Antoin Gary. Mas como ressabiados da tarefa a seguir os humildes funcionarios da limpeza publica, muitos ali,misturavam se a fanfarra aproveitando a pecha, desfilando em meio a balburdia num baile proprio ,uma quase encenação teatral.Outros mais sensatos ou só a espera de encerrar o bloco, de soslaio e credulos observando que toda folia teria fim e logo a eles seria abraçada a comum rotina de varrerem ,limpando a sujeira que era deixada.Restos da alegria dejetos do desejo ,da luxuria, das ilusões

Orfeu e sua lira unia gregos e troianos. Parecia a quem visse que cumplicidade o fora deixada de lado junto a regras. Era a volatilidade da companhia e da confiança estreitados pelas reações instintivas O convivio era apenas a folia e a farra em meio a individuos quase nus, tropegos, gaiatos, loucos, transvestidos e o mundareu de confusao , um desvario coletivo, uma catarse de ebrio e instinto .O caos,o caos em si e pujante pela miscelanea humana pelas ruas presente em festejo .

Um show vagabundo ali acontecia. A desmoralizaçao não era sobremesa,era prato, com a nudez ao invez de aviltar, apenas desmitificando a materia do corpo humano feminino .Uma beleza cujos traços suaves agora enojavam-no pela vulgaridade exibida ali ao lado ,naquele show absurdo como o de um qualquer cavé de grande cidade.Eram corpos a exposição demasiada num ato que não conseguia admirar senão contextar qual valor consistia naquilo de tantos exporem só para viverem momentos efemeros e tão vazios junto a outros que estavam ali só para despojados de pudor mercantilizarem a propria materia, sem valorarem a si mesmos.

Que chovesse, e as aguas limpassem as ruas,desejava, embora o ceu permanecesse limpido.Que chovesse e as aguas junto ao vento limpassem aquele cheiro, calando também as ruas e a mixordia.Chovesse e apagasse o folguedo e impussese sob a força da natureza uma minima disciplina para esvaziar as ruas e diminuir o alarido daquele mundo lubrico. Sentia se cada vez absorto,distante, embora permanecese no mesmo espaço que pouco perambulara.Nao era interessante estar só em plena multidão, então recolheu- se , atravessando os mares de gentes , vez outra sendo visto, chamado para alguma conversa. Mas aquelas vozes e misturas de cheiros não atraiam-no. Tampouco aquelas poucas roupas de possiveis consortes de uma noite apenas. Eram efemodemias e não ,não valia a pena. Seu corpo nem manifetava se ali naquele tropel de passos ,por que sua mente distava-se a um ponto cardeal distante.

Seguiu abrindo espaço com as mãos. E as ofertas davam se a vista banstando apenas um toque. Mas não eram noites para si, nem para estar de tal forma acompanhado. Sentia se só, por que não existia razão falar de si e sobre si e sobre um mundo como tanto desejava, mas não ali e sem a Alma ao lado Aquelas vozes não o atraiam. Vozes sem nomes, rostos apenas mais rostos em proximidades da qual desejava manter distancia nem mesmo para escuta-las em meio ao comum festivo. Desejava ,sim, afastar-se ja enjoado por observar aquele devaneio coletuvo. Caminhou ,saindo tirou a humilde mascara de papel. Riu. Olhou para os lados e viu bebados ou drogados que lançavam seus dardos de palavras brejeiras para jovens que passavam.Uma destas olhou no de cima a baixo, convidativa fez-se,mas ele olhou para outro lado.Não ,nada daquilo interessava-o e arrependera de sair ao contato com aquele mundo de mascarados, clovis, bebuns ,palhaços e luzes, vozes e apupos ,para naquele instante deixar-se sob o imenso salão do ceu observando algumas estrelas. O cruzeiro do sul apontava e sua flecha imaginaria apontava ao oeste, ao oeste tão distante.

Em meio a turba lá fora o amr de gente que deveria atravessar .Seguiria , não esperaria a madrugada ganhar espaço,pois o que desejava era uma unica companhia.A unica e toda , e necessaria ao seu mundo.Mas ali cabia apenas imiscuir-se , enquanto afastava-se . Quem ele almejava não poderia estar jamais em meio aquele folguedo espurio e dionisiaco.Seguiu, com os passos pelos pés de moleque da rua. Ecoa va agora forte seu proprio silencio a medida que distava se do local da folia, rumando sob a penumbra Agora escutava um som ja antigo de paradas pop rock em seu peito.De Alguma sacada pensou escutar uma musica dos’ Los hermanos’,mas enfim, deveria ser apenas consigo,por que apenas ele não vivia aqueles dias de rotina. A musica seguia, seguia e a si sabia que nem mesmo tivera oportunidade para dize-la: “ Deixar eu pintar o meu nariz deixa eu brincar de ser feliz”...Não.não sabia brincar daquilo. Tivesse-na ao menos por uma só vez mais ... uma vez mais e tavez fazer –se ser ouvido e quem sabe também traze-la um riso, um alivio ,mutuo,uma vez mais apenas...mas era o seu limite. Tinha de estar só,apenas mesmo consigo.

Quatro e quarenta e cinco.Caixa postal vazia e nenhuma chamada no celular .Nenhuma espera.Voltara e mais um dia. Pela tv a monotomia assumia o comando. Respirou fundo teclou um numero ao telefone. Estava mudo. Foi a janela olhou para o céu distante plumbeo.Chuvas viriam,mas o oeste continuava distante. Voltou e deixou se sucumbir ao desanimo e divagaçoes ruins e sobre o minusculo sofa caiu em pesadelo.As cinzas viriam, para somarem se ao sentimento de grande vazio.

Essência
(Wilson Simoninha)

Garrafas de cerveja
espalhadas pelo chão
um sapato velho perdido
lembrando a confusão
o samba de ontem não acabou bem
o samba de ontem não
acabou bem, não
porque, porque
o samba não é só um dia
o samba
não é só folia
o samba se parece com a vida
nasce e morre todo dia
pra ser

essência
corpos e construções essência
beijos e lições
essência
corpos e construções
essência
entre beijos e lições
essência...


"Ainda bem que todo o carnaval tem seu fim" e deixou-se,mudo.

A.