23 nov 2007

Dia da Consciencia Negra e a Comunidade Judaica

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O Brasil é um país marcado por desigualdades. Temos uma das piores distribuições de renda do planeta, um fosso separa a qualidade de vida das diversas regiões brasileiras, a diferença de salários entre homens e mulheres, para funções iguais, simboliza uma clara discriminação de gênero. Preconceitos de todos os tipos acentuam rachaduras sociais e consolidam estereótipos.Os muros ainda não ruiram.

20 de Novembro dia da Consciência Negra. Em várias partes do Brasil, grupos de diferentes tendências dentro da comunidade negra debateram a situação e as perspectivas da luta contra a discriminação racial. Nenhum de nós deve ignorar a dimensão deste problema em nosso país, que inúmeras estatísticas denunciam. A mais recente, produzida pelos pesquisadores Marcelo Paixão e Luiz Carvano, da UFRJ, mostra que, de 1999 a 2005, a taxa de assassinatos por 100 mil homens brancos caiu de 36 para 34.Dados disponiveis mesmo no O Globo diz que entre os negros,subiu de 52 para 61.Pobreza e discriminação:uma mistura letal

Cabe aqui o que a ASA ,Associação Judaica Scholem Aleichem de Cultura e Recreação ,com seu historico passado de esquerda , a mesma Instituição que na terça feira proxima ,dia 27/Nov as 18h30 promoverá o encontro aberto a todos, para o Debate e discussão de Projetos e Politicas Publicas para a Cidade do Rio ,notificou:

"Solidarizamo-nos com nossos irmãos negros que lutam por uma sociedade mais justa e tolerante. E uma forma de democratizar a informação, estimular o debate sobre estratégias que enfraqueçam os preconceitos e fortalecer alianças dos setores democráticos. (...) Quando homenageamos no dia 20 de novembro a Consciência Negra, é preciso relembrar os horrores e a suprema vergonha do passado escravagista, da mesma forma que devemos relembrar os horrores do Holocausto dos judeus e outras minorias da II Guerra Mundial(...)Com o mesmo objetivo de impedir que o povo participe das decisões políticas que lhe interessam, diversos governos das elites negam aos Conselhos de Políticas públicas ou de Direitos os recursos necessários para realização de suas atividades, além de tentarem iludir lideranças dos movimentos populares com diversos favores e privilégios para que abandonem as causas de seu povo.”

Movimentos negros em sua longa experiência de luta de resistência diária na demonstram que inumeras vezes,o Estado Brasileiro, nas suas diferentes esferas municipais, estaduais e federal, é estruturado e, na maioria das vezes intencionalmente administrado, para boicotar a participação popular na formulação de políticas públicas e na definição dos recursos para cada uma delas.Por mais que se criem programas e políticas públicas voltadas à população negra e mais desfavorecida , elas são atualmente desenvolvidas de forma limitada, uma vez que as necessidades da maioria do povo não são tratadas pelos governos como prioridade em seus orçamentos quando comparadas com as ações que visam atender aos poderosos. Neste sentido, também cabe alertar que Políticas Afirmativas não convivem harmoniosamente com a destruição de políticas sociais universais.

Portanto,urge construir uma sociedade onde o Povo exerça o Poder Político e o controle sobre a produção econômica, para que todos se beneficiem do que o conjunto da sociedade produz, e as diferentes contribuições culturais e étnicas sejam respeitadas e tenham visibilidade.

Armando Aguiar.

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22 nov 2007

'Não há lugar no mundo' poema de A.Aguiar

Impossível
Impossível
Compor um poema a essa altura da evolução da humanidade
Impossível uma linha mesmo que torta
Uma linha que seja
Por que tudo perde sua utilidade
Em que uma frase de subúrbio diria a causa de vir ao mundo?

O ultimo poeta morreu faz tempo
Hoje todo mundo é poeta
Todo o mundo é grande e já não basta apenas estar no mundo.


Ate eu mesmo na minha timidez e inutilidade tento escrever!
Quando ninguém mais lembra nem mesmo do poeta.
Eu sem respeito algum a heráldica
A nobiliarquia, tampouco aos muros entre classes e origem.
Minha descendência não é burguesa
Mas reivindico lugar nulo ,se nem pertenço a sindicatos.
Eu que não tenho nem Nome!!!
Mas sobraram causas, tantas.
E apenas sei
Morreu faz tempo o último, assim como este meu sentimento que me condena.


Não.
E se não penso entrar na imortalidade
Apenas então para que deixar sair sentimentos?

O mundo é vasto para gente miúda
Embora sonhar fosse atitude livre
Cerram nossas utopias ao defrontarmos com o Muro.
Na fabrica segue o tinir de martelos
No trem ,na condução segue a rotina e os murmúrios da gente simples.
Ah Impossível querer copiar ou compor algo que seja util a esta época .
Nessa altura de evolução da humanidade...
Hoje o mundo é mais dinâmico
Por que escutariam?

Nessa altura de evolução da humanidade
Ao invés de presença humana
Se está só
Entretido nesta sinestesia efêmera
Nesta ridícula promessa
De mãos dadas juntos em marchas únicas
Sonho irreal nesta impossibilidade de percursos

Ao invés de flores
Casos
Ao invés de Revolução
Criamos novas fronteiras.
Terceirizamos a tudo
Sentimentos
Tudo
Nessa altura de evolução da humanidade
Há maquinas
A preencher todas as necessidade humanas possíveis
O mundo é lugar vasto
Mas o mundo todo está tomado de semi deuses
Todos são grandes!
Titãs ,seres dinâmicos que preenchem todas as necessidades.
Não há lugar para a gente comum e sem nome
,rostos tímidos assim como o meu


Não não há lugar neste mundo para alguém tão pequeno.
È preciso fazer ser grande para ser quisto .
Mas para que esta maledicência egoística?

O mundo evolui
E perco-me neste .
O poeta profetizou a muitos anos :
“Os homens não melhoraram e matam se como percevejos
Inabitável o mundo e cada vez mais habitado
E se os olhos reaprendessem a chorar
Seria um segundo dilúvio”


E declarou que ainda falta ,um pouco ainda,
Mas falta para atingirmos o ápice,
Um nível de evolução e cultura...

Mas até lá felizmente também já estarei morto.

A.A

20 nov 2007

Dia da Consciencia Negra e Lutas Sociais

-Dando protagonismo aos que protagonizaram também a nossa Historia.

.Será amanhã, a partir das 9:30 da manhã dia 21 de novembro na Rua Dom Manuel s/n, Centro da Cidade, atrás do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro com faixas, cartazes e panfletos promovendo uma pacífica manifestação para chamar a atenção do poder judiciário e da sociedade para a gravidade da proibição do prefeito Sr Cesar Maia (do DEM) feita aos Prés Vestibulares Comunitários numa clara ação discriminatória em que o mesmo viola a Lei Organica do municipio ao nos proibir o uso das salas de aulas ociosas de escolas municipais e assim atinge diretamente milhares de jovens de origem pobre e negra de nossa cidade.Inumeros prés comunitarios tem encontrado dificuldades para existirem.Há os que recorreram a solidariedade de igrejas para obtenção de espaço para as aulas.Outros simplesmente não puderam mais existir!

Como frisa o professor Robson Campos o qual está dentre os fundadores da Central Prés Comunitarios de Jacarepaguá, esse projeto é de interesse de toda a sociedade, uma vez que o mesmo , a uma década ,tira jovens da pobreza e da exclusão social e os coloca na universidade. Aliás, é exatamente por isso que o Ministério Público acatou a nossa denúncia: Por entender que se trata de uma lesão de tutela coletiva. Em outras palavras: Esse projeto é de interesse do bem comum. E logo após o 20 de Novembro- dia da Consciência Negra. Por que?

Por que o PVNC atua diretamente na omissão do Estado durante décadas.E tal data além de marcar o momento em que a causa estará sendo impetrada ao Ministerio Publico para que juizes e desembargadores decidirem na ,estaremos juntos na luta pela Inclusão. O proprio movimento surge como respostas as mazelas existentes na Educação e bem como na então falta de espaço para a inclusão de aulas sobre a cultura negra e cidadania a jovens . Claro que quanto as melhorias no sistema de ensino neste governo existem e a dura penas, mas cabe ressaltar conquistas advindas de longo processo de mobilizaçao de movimentos identitarios e proletarios como neste exemplo o PVNC . Não especificamente no que se refere as deficiencias no ensino seja algo que devemos creditar a este governo,mas aqui ,convem repetir ,trata-se das décadas de exclusão.Desde a ditadura quando o ensino de base foi sendo desmantelado em benesse do tecnicismo e ao longo dos anos 90 com o neoliberalismo implacavelemente mercantilizando e sectarizando quanto mais o ensino em detrimento do ensino publico.Exclusão sem exageros de séculos, se tratarmos da população negra e parda ,incluindo a esta tambem a massa de brancos pobres.E este movimento social ,o PVNC atua sem assistencialismos. É a ação social apartidária em que o individuo não é mero assistenciado.Ele se torna co-autor de sua emancipação. O PVNC é coletividade.Atraves de um projeto inovador, as aulas de cultura e cidadania objetiva se a auto consciencia e libertaçao das amarras do assistencialismo, do paternalismo e da falsa aceitação da sociedade capitalista pela meritocracia.

Agora cabe nos a pergunta :Por que um dia da Consciência Negra.

Vamos nos ater a um simples dado: vivemos em uma nação que tem mais de 50% da sua população negra ou dita afro descendente, onde a grande maioria desta população se situa nos setores excluídos e marginalizados da sociedade brasileira junto aos outros pobres mestiços e brancos.

Mas o que é então o dia da consciência negra? Qual o papel , e por que o dia de Zumbi e da Consciência Negra? Por que vidas marranas trataria disto?Mais uma luta de exclusão.Aqui porém não fala-se de pertencimento,por que já se pertence e por isto volteia se tanto uns e outros no mito da democracia racial que há no pais. Compreendo como uma simbologia da luta do negro no Brasil e da luta da libertação do negro no Brasil, numa história que é muito mais que baseada na condição de escravos. E Esta polêmica em não aceitar é resultado e prova do processo histórico da sociedade. Pensemos: seria justo temos dia e feriado dos descendentes dos italianos, dos judeus e outros no Brasil? Talvez sim. Mas estes ,vamos raciocinar, eu cito meu caso, são minoria dentro de uma população de 180 milhões de habitantes!!! Haja vista cerca de 90 milhões de afrodescendentes!!!

Tão logo, um dia da consciência negra surge como processo de auto afirmação e valorização, atenção a culturas e importância dos vários grupos étnicos negros que também construíram esta nação .Não é nada absurdo. Não podemos nos furtar a manter um silêncio desde que a nação foi cimentada.A partir de quando que valorizamos os hábitos e dos europeus: desde a colonização como elementos de dominação ,começado pelos lusitanos. E assimetricamente a cultura da população negra.Onde era valorizada? Hã? Sempre secundarizada, ainda que sendo, em diferentes momentos, maioria ou metade da população e por si muito intrínseca ao que somos hoje neste cadinho cultural e de povo. Daí ter um dia que simbolize o negro. E tal data , sim, pode ser lida no sentido de superar a diferenciação social.Um símbolo,um marco em uma sociedade que pretende se democrática e inclusiva ,mas que na sua prática perpetua a exclusão ocultando-a, até mesmo sob o mito do convívio e democracia racial Gilberto freiriana

E assim, eu colocaria, inclusive, que você ter um Dia do Negro no Brasil, ou o Dia da Mulher - você não tem o Dia do Homem-é muito importante. O cotidiano do negro é muito presente, sobretudo naquilo o que faz acontecer o processo de produção, o trabalho todo de produção dos bens. E, ao mesmo tempo, ele está cada vez mais distante do uso dos bens, da aquisição e do acesso. Então, não precisa do Dia do Branco, nem do Dia do Homem porque são setores que estão trabalhando num processo de dominação tão grande, que para que comemorar o seu dia, se todos os dias já são seus?Mas o dia do negro, da mulher, dos direitos a minorias (no sentido de sob loquo direito e acesso ao ‘bem estar social’) muitas vezes marginalizadas da sociedade , repito, não é absurdo

E Zumbi? Por que?Risível como muitos ainda sentem se incomodados com o mesmo?Numa terra de heróis míticos, quase sempre brancos, grandiosos em seus feitos,alias, em uma sociedade da Historia contada pelo vencedor, nos é hoje necessário,pela luta e reivindicações sociais e na própria acadêmica por uma outra forma de se escrever e fazer Historia - que privilegie a historia do silencio.E preciso quebrar o status quo de nossa sociedade se queiramos de fato que esta seja nossa e não apenas de alguns com regras bem ditadas por estes.Bem, resta repetir que também que uma vez metade do país tem suas origens afro descendentes, os filhos destes até então viam nos livros, na historias, apenas herói brancos e sem muito a ver suas origens.Por que não negros também como atores e personagens atuantes na historia do país, ao invés de apenas restringir lhes o papel na historia como sendo apenas escravos.

E aos que poderiam insistir, que ora , sendo afrodescendentes, mas num país mestiço,Tal data seria absurda ok.Mas então, logo, qual o problema de também miscigenar nossos heróis, dando -lhes as amplos rostos seja isto na mídia ,na História, nos protagonismos de muitos acontecimentos? Se não aparecem, não o é por que a população negra apenas se restringiu a condição de submissão. Pelo contrario. Zumbi demonstra isto . Mas não apenas ele. O que há é um esquecimento da memória! Isto, sim!Ao analisarmos a História, encontramos inúmeros exemplos de resistência. Exemplos. a Revolta dos Malês.Ou a dos Alfaites na Bahia .Outro? Movimento negro em Sampa dos anos 30. Relações de dom e contra dom e reivindicação de reivindicar alteridade e pertencimento se manifestam na Historia de luta deste grupo,perfazendo assim também a Historia desta nação composta de brancos, negros ,mestiços e índios. Não faltarão elementos para observamos uma Historia nacional de anônimos brancos pobres e negros ,mulheres,e o que denomina(va)-se como a ‘arraia miúda’ frente a ‘boa sociedade’.

Se Zumbi vive? Ele esta em nossa Historia. Dia 20 não é apenas uma data .É tornado um marco , pois dentro da desigualdade enfrentada isto se faz necessário.É a busca por respeito a uma alteridade frente a farsa deste multiculturalismo que pretende-se justo,mas cego,sem repensar a dramaticidade do capitalismo que torna a diferença desigualdade.

Armando Aguiar.
PT Saudações.
Shalom.

4 sept 2007

Versos fotográficos


(mimico francêsMarcel Marceau)
Flores?Nem sempre são recomendaveis.Nem sempre são aceitas por Aquela

Os versos saem obscuros ,por que de uma voz quase inaudivel.
A prisão de teus olhos que me atiçam, ah enquanto respiro já bem pouco.Mas libertar-me?Ah não ouso.

Por que tão longe voaria?Só para causar-me engano? Mas também para quê respirar se ,ah o meu tempo é pouco .Só para ter certeza que é impossivel ser feliz neste mundo?

Não te quero senão porque te quero
E de querer te a não querer te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo

Te quero só por que a ti te quero
Te odeio sem fim ,e odiando-te rogo
E a medida de meu amor viageiro
E não ver -te e amar te como um cego

Talvez consumirá a luz de Janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro
Roubando- me a chave do sossego

Nesta historia só eu morro
E morrerei de amor por que te quero
Porque te quero ,amor a sangue e fogo

Quantas vezes amor te amei sem ver-te e talvez sem lembrança
Sem reconhecer teu olhar sem fitar-te
Te amei sem que eu o soubesse e busquei tua memória
Nas casas vazias entrei com lanterna a roubar teu retrato
Mas eu já não sabia como eras

De repente
Enquanto ias comigo ,te toquei e se deteve minha vida
Diante de meus olhos estavas ,regendo- me ,e reinas
Como fogueira nos bosques ,o fogo é teu reino

Antes de amar- te ,amor nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas
Nada contava, nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava

E conheci salões cinzentos
Túneis habitados pela lua
Hangares cruéis que se despediam
Perguntas que insistiam na areia

Tudo estava vazio ,morto e mudo
Caído, abandonado e decaído
Tudo era inaliavelmente alheio
Tudo era dos outros e de ninguém
Ate que tua beleza de dádivas
Encheram -me o outono...


10 ago 2007

*Confissões "



Nesta cidade do Rio de Janeiro
De milhões de habitantes
Estou sozinho no quarto
Estou sozinho na América.

Estarei mesmo sozinho?
Quantos mais não estarão também sozinhos?
Escutando estas musicas em seus quartos
Esperando cartas
À penumbra
As paredes olhando.
Ou outros mais
Sem teto
Com fome
Ao relento
Sem sonhos
Evadindo-se
Mas a qual direção há fuga?

E ainda há pouco aqui um ruído
Anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
Mas é vida. E sinto a Bruxa
Presa na zona de luz.

De milhões de habitantes!
E nem precisava muito
Vejo rostos ,reconheço nomes,
Com tantos falo ,a tantos ouço
Mas cadê
Cadê se não apenas este vazio.

Precisava de companhia
Dessas que suportassem me calado, quase distante,
Destas que lêem verso de Horácio
Mas secretamente influem
Na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
E a essa hora tardia
Como procurar amigo?

Mas
Talvez queira mais e tanto.
Precisava de mulher
Que entrasse nesse minuto,
Dançasse esta musica
Sentisse a canção que invento
Recebesse esse carinho
Salvasse do aniquilamento
Um minuto e um carinho loucos
Que tenho para oferecer.

Em milhões de habitantes
Quantas mulheres prováveis
Interrogam-se no espelho
Medindo o tempo perdido
Até que venha a manhã
Trazer leite, jornal, calma.
Porém a essa hora vazia
Como descobrir mulher?

Esta cidade do Rio!
Mas...
Outros mais têm mais palavras meigas,
Conhecem vozes de mais bichos,
Sabem os beijos mais violentos,
Eu apenas viajei e nem tanto,
briguei, aprendi e pairo reflexivo
Diletante
fora de meu tempo
Absorto em pensamentos

Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras
e silêncio
Mas se tento comunicar-me,
O que há é apenas a noite
E uma espantosa solidão
E mergulho ,
Imerso numa multidão de indivíduos.

Ah! Companheiros
Notívagos ,insones ,ocultos
Escutai-me!
Essa presença agitada
Querendo romper a noite
Não é simplesmente a Bruxa.
É antes só a confidência
Exalando-se de mais um individuo.

(-adaptado de A bruxa
de Carlos Drummond de Andrade)

"Aforismos"



I-
“Nada além de uma palavra.Nada além de uma prece.Nada além de um movimento de alma.Nada além de uma prova de que ainda se vive e se espera.

Não,prece,não.Nada além deu um sopro.Nem sopro,nada além de uma disposição.Nem disposição,nada além de um pensamento.Nem pensamento .Nada além de um tranqüilo sono!

Noite de insônia .Já a terceira de uma série .Durmo sem esforço,mas,ao cabo de uma hora,desperto com a impressão de ter enfiado a cabeça num buraco medonho.Vejo –me completamente acordado,como se não tivesse nada dormido:o trabalho de adormecer irá começar ,visto que o sono se me recusa...

E ouso então ouvir as asas de um Anjo.E anunciada a madorna, vem o alento, ainda que não como o desejado, ainda tem se um pouco de tempo, e sob o toque tão terno adormece-se ainda conseguindo o respiro

Desse momento em diante,pelo resto do fim da noite até aí por volta das cinco horas ,toda vez que pego no sono ,agitados pesadelos me trazem de volta á vigília.A bem dizer,durmo ao lado de mim,em luta com os próprios sonhos.”

II-
. "(...)A distância por vezes é boa.
Pois na outra margem há a alegria que mais o sublima.
e ao deparar-se com o abismo,mais este se impõe e se infinita.
(...)
E vê-se como que frente a um espelho,para que assim o individuo encontre a certeza,a única, de não poder incitar-se a alçar vôo e transpor o abismo.Mas,sim,devesse então dar um só grande salto no escuro e,deveras,nas trevas cair e assim se cessar e por-se em súbito silêncio.(...)"

III-
"Um primeiro sinal do conhecimento nascente é o desejo de morrer. Esta vida parece insuportável; uma outra, inalcançável. Então não há mais vergonha em se desejar morrer; pede-se apenas o deslocamento da velha cela, que se odeia, para uma nova, a qual no devido tempo se aprenderá a odiar. Um resquício de fé deverá fazer crer, durante a mudança, que o S-nhor vai casualmente surgir no corredor, olhar o prisioneiro e dizer: “Este não deve ser preso novamente. Ele vem comigo”.

IV-
O homem se imagina um cidadão livre e protegido deste mundo pois a ele está preso por uma corrente longa ao ponto de lhe permitir completa liberdade de movimento por todo espaço terreno ,mas não tão longa que lhe permita ultrapassar seus limites. Ao mesmo tempo ,no entanto, pode sentir-se também um cidadão livre e protegido do mundo celestial,ao qual se vê ligado por uma corrente semelhante.Assim sendo ,ele se vê contido pela corrente que o prende ao céu toda vez que pretenda dirigir-se à Terra,ocorrendo o inverso quando deseje alcançar o firmamento.Ocorre ,porém,que todas as possibilidades estão diante dele, e bem sabe disso,pois se recusa a aceitar o impasse decorrente da contenção original."

Antigamente,não podia entender por que minhas perguntas ficavam sem respostas;hoje,não posso entender como é que pensei ter a capacidade de perguntar.Na verdade, eu realmente não pensava:eu apenas perguntava.”

V-(...) Seria algo realmente desesperador, se caminhasses numa planície, com a agradável sensação de estar a avançar, quando na verdade retrocedias. Como porém escalavas uma encosta abrupta, bastante inclinada,conforme por ti mesmo vista de baixo, a causa do retrocesso bem poderia ser devido à disposição do terreno.Mas não,não deves desesperar. Por que a partir de um certo ponto não há mais retorno. Sim,a partir de um dado ponto, o unico objetivo é o proprio limite .E é esse o ponto que deve ser alcançado. Se sobrarem sonhos e faltarem forças e não mais puderes surpreender nem a si mesmo,então ,ao limite, a este traço , ponto ultimo e final terás atingido. Com o coração na mão até o limite ultimo pois a Vida é uma atitude solitária:Do Nasce-se,Vive-se e Morre-se,Só.Uma extensa estrada,solitaria, por vezes longa demais.

VI-O que deveria fazer?Ser.Apenas e assim pensar existir anonimamente ao tornar ao grão de poeira que fostes e que ajuntado pelas mãos fez-se um homem .Devesse agora então tornar ao pó,escoando, lançado ao vento ,ao esquecimento
.ציונות סוציאליסטית

VII-
"O caminho verdadeiro segue por sobre uma corda, que não está esticada no alto,mas se estende quase rente ao chão. Parece mais determinado a fazer tropeçar, do que a caminhar por ela" Na verdade uma corda bamba, ora tendendo a levar a um lado e outro, a fazer quase cair e poucos não cambaleam e uma vez isto ,perdendo o equilibrio ,desistem de caminhar por ela, apenas seguindo assistindo.Esta é a vida.E poucos conseguem libertar-se da mesmicie disto,tal como a quem me referi quando esbocei isto.Pena ser impossivel copia-la por que é indiscutivelmente ímpar.

VIII-

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,onde as formas e as ações não enceram nenhum exemplo.Praticas laboriosamente os gestos universais,sentes calor e frio, falta de dinheiro,fome e desejo sexual.Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.À noite, se neblina, abrem guardas chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerrae sabes que,dormindo, os problemas te dispensam de morrer.Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.Caminhas por entre os mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito(...)

Coração orgulhoso,tens pressa de confessar tua derrotae adiar para outro século a felicidade coletiva.Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes (mais), sozinho(viver a vida)dinamitar a ilha de Manhattan.

Ou deitar suspirando a morte ou Revolução que não acontecem nunca.

13 jul 2007

O lamento por um aniversário

Maldito seja este dia
O dia que as coisas acontecem como se cada instante fosse toda a vida
Como num cassino de sentimentos
deixa-se em jogo o todo pouco que tinha

Um dia para se ser infeliz.Um dia
13 ou 14
Ou como tem sido os dias .

E toda palavra
perdeu qualquer sentido
uma vez desta boca tendo sido dita...

Se fosse outro teria maior sentido?
Se fosse outro, fronteiras não teriam sido estabelecidas.

Como disse Jób
O profeta bíblico da lei de Murphy
Tão logo estará tudo tão sereno, por que o pior ainda é o que virá e será possivel...

"Maldito seja o dia em que nasci

aquele no qual desgarrei-me das entranhas do ventre materno para vir ao mundo
E Maldito aquele que naquele momento anunciou:
Eis que vem ao mundo um menino"

Por que não reviraram as entranhas e não sufocaram me enquanto criança?
E assim não visse a vida
Tivesse tornado o dia em Trevas para não ter o Sol conhecido

Ou a maré vermelha, suja de sangue ,inundasse e sufocasse quando ainda tão puro...

Quiçá infeliz por um dia
Apenas um dia.
Apenas um dia para declarar seu amor da pior maneira possivel
Um dia para o que se entrava na garganta ,sufocar e em nada ser expressivo
Um dia para que as juras e a declaração amargurasse
e assim morresse melhor calado que incompreendido

Um dia para se descobrir que se é ludibriado pelo próprio sangue
um dia apenas
Mas não este. Ou melhor não seria

Carregar esta maldição na alma, no sangue

Vendo os ideais em que se acredita tão fúteis, liquidos, imaginativos
Os amigos tão voluveis ,frios ou cada qual em seu destino

Apenas um dia
tinha de ser neste dia
Não há dor
não há doença
Senão o mal que atormenta a alma

a doença que apetece nunca
a dor a qual já se acostuma
e o tempo
este solidário consigo, consumindo os dias
Se faltam quarenta e um meses ainda...

Falta de mãe
de ombro
de abrigo
ou apenas de fuga

Não .
Acostuma se já

Tanto tanto tempo sozinho
Falta de tudo
Falta de animo
Falta de sonho
Uma razão luzindo ao fundo
E vê
E a verdade é que não há caminho

Apenas um dia
tinha de ser hoje
pela manhã, começando bem cedo
Um golpe de Estado, uma tentiva de insurreição,mas o que se tem é um tiro que sai pela culatra
No pé
nas mãos
ou apenas simbolizado pela dor que ressurge
enquanto se é abraçado pelo vazio

uma guerra sem causa
uma morte sem nome
uma vida sem sentido
uma bandeira ilusória
um oficio tão lúdico
uma raça sem futuro
um futuro rompido
uma salvação que não existe
um amor sem ser correspondido
sem lugar para exilio e cerrar -se em sono e findar seu percurso...

Maldito seja este dia
Senão todos destes longos anos
e não há porta
e não há abrigo
não
não há saída
e não há cama ou leito para que se possa chorar e fugir do mundo

por que o mundo permanece lá fora
e o maior mal está ainda no peito ,consigo

e não há remedio para esta dor
não há o que se possa deixar
não nem mesmo há no que possa tempo voltar e perdoar

Da mesma forma que não há formula
não há saida
não há nada senão a si mesmo
apenas consigo
apenas consigo e isto é o que causa maior agonia

poderia nada ser dito...bastava apertar o peito que a dor era possivel
de suportar e assim de morrer calado, deixando as poucas ,mas melhores lembranças como ditas

Maldito seja este dia
no qual sequer as palavras foram comprendidas , do outro lado apenas silencio, pausa, receio e apatia

Não
Não
Mas o que esperava?
Choro, saudade, esperança e também algum sonho conjunto?

Não
Não nada mais que apenas silencio.Mas cabe muito agradecer por ter sido ouvido
cada palavra que saía .
Ccada palavra doída e rasgando o peito e a garganta
Mas tão mal ditas que foram ouvidas tão poucas e efemeramente.

Um amor não correspondido
Um amor não ouvido
Mas tinha de ser junto a este dia
Mais outro
onde descobre cada vez mais o mundo
envelhecendo num lugar estranho, impossivel para a vida.

Roubado,miserabilizado, tornado diminuto.
Agora nem mesmo sonho,
nem mesmo uma fagulha
pra que esperança?
pra que teimosia?

*E agora José? diria o saudoso Drummond de Andrade

E agora, José?A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu,a noite esfriou,e agora, José?
E agora, Você?Você que é sem nome,que zomba dos outros,Você que faz versos,que ama, protesta?
E agora, José? Está sem mulher,está sem discurso,está sem carinho,já não pode beber,já não pode fumar,cuspir já não pode,a noite esfriou,o dia não veio,o bonde não veio,o riso não veio,não veio a utopiae tudo acaboue tudo fugiue tudo mofou,e agora, José?
E agora, José?sua doce palavra,seu instante de febre,sua gula e jejum,sua biblioteca,sua lavra de ouro,seu terno de vidro,sua incoerência,seu ódio, - e agora?
Com a chave na mão quer abrir a porta,não existe porta;quer morrer no mar,mas o mar secou;quer ir para Minas,Minas não há mais.
José, e agora?-

É o que me pergunto a cada dia. E agora?

José? José?
Se você gritasse,se você gemesse,se você tocasse,a valsa vienense,se você dormisse,se você cansasse,se você morresse....

-Ah se você morresse!

Mas você não morre,você é duro, José!

Por que você não morre José?
E deixa a casa, por que a casa não é sua,deixa o lugar por que nem mesmo neste tens nome, por que não deixa a si mesmo, libertando-se de si e deste mundo?
Não há mais motivos para nada José, não te vêem ,nem escutam ou não sabes falar...ah José, nem mesmo na música, nos versos..em nada José?
nenhuma lembrança?nenhum abraço, nem mesmo saudade deixada José?

Ah José, não há mesmo mais jeito...
nem mesmo mais há interesse em ser visto.
Andando no escuro esperando o quê José?Esperançando uma coisa última,mas que coisa José? Se a esperança acabou e o tempo se encerrou neste seu pobre discurso...

José ,por que você não morre? E deixa esta teogonia, deixa sua crença, deixa aquela terra distante , deixa seu D-us, deixa a falta de par, deixa as dividas, deixa seu partido,por que,por que não há mais lutas.

São outros tempos José!
Mas
por que José? por que ainda insiste?
Sem choro, sem boas palavras e apenas este silêncio.Sem sonhos José?


Sozinho no escuro qual bicho-do-mato,sem teogonia,sem parede nua para se encostar,sem cavalo preto que fuja do galope,você marcha, José! José, para onde?

Para onde?
Qual o caminho?
Viver sem sonhos não é viver José.
Pra que insistir José?
Desista José.

A. 13-14/07/2007


Cansado, vejo a vida passar

Meu lugar ao sol, já cansei de esperar
O tempo, faz promessas
e eu vou
Ando a toa eu sei
pois me falta você

Por que, todo mundo precisa de alguém?
E eu preciso é de você.
Para comigo andar e para me entender
Eu preciso é de você
Pra continuar
e tentar não me perder

Entenda, é preciso saber
Sem motivação, é difícil viver
A vida me ensinou a querer
Um motivo só e eu vou lhe dizer

Por que, todo mundo precisa de alguém?
E eu preciso é de você.
Para comigo andar
e para me entender
Eu preciso é de você
Pra continuar
e tentar não me perder

Por que, todo mundo precisa de alguém?
E eu preciso é de você.
Para comigo andar
e para me entender

Eu preciso é de você
Pra continuar
e tentar não me perder ...

"Quando eu te escolhi
Prá morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais ..."
A Maçã -Raul Seixas

(adaptado)
O que você me pede eu não posso fazer

Assim você me perde, eu perco você(como posso tentar esquecer de você?)
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor

O que você não pode eu não vou te pedir
(Mas por que nunca inventou de sonhar?)
O que você não quer eu não quero insistir
diga a verdade, doa a quem doer
(Não significo mesmo nada, nada a você)
Doe sangue e me dê atenção

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar
às vezes fica longe, difícil de encontrar
Mas, quando o neon é bom
Toda noite é noite de luar

Toda vez que aqui falta luz
(é só seguir o seu luar)
Toda vez que algo nos faltar
Em um salto no escuro
O invisível nos salta aos olhos

O fogo ilumina muito,por muito pouco tempo,
em muito pouco tempo o fogo apaga tudo
Toda vez que falta luz,o invisível nos salta aos olhos

Tempos à noite eu conheci uma guria
já era tarde, pensei que já não mais a veria outro dia
Era o princípio
de um precipício
Era o meu corpo que caia

Ontem a noite, a noite tava fria
tudo queimava, nada aquecia
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha ,era minha
Aquela solidão

Tempos à noite eu conheci uma guria que eu já conhecia
Ela apareceu, parecia tão sozinha
parecia que era minha
apenas aquela solidão

No início
eu uma vez mais vivia
Mas levava me a ela
E a um precipício
Era meu corpo que caia

Foi tão difícil acreditar que eu ainda vivia mais outros dias
Depois viver virou um vício
Ela aparecia, parecia tão sozinha


Parecia que era minha que era minha
Mas
O resta é esta solidão...

26 mar 2007

Cinzas

Pequeno conto sem entremeios -
Outras cinzas sobre as cinzas do 21 de Fevereiro

*Ao som de Bach , Andante in concerto para violino em fá maior II)

Telefonara inumeras vezes e nada
Nada.Nada
A dor aumentava. E os exercicios não calavam o peito que arfava.Sentiu uma leve pontada. Seguiu se um esmorecer de forças quando os musculos extenuavam se.Fraco- pensou.Insistiu.E cerrou os olhos. Agonia. Dirá ainda mais aquela tamanha saudade. E a indiferença já retratada naquele quadro. Então num esforço, sem ter cabeça para escrever algo, olhou seu mundo, sua vida . Caotico,desorganizado e sem perspecitivas. Seu sonho,apenas mais um dia apenas. Mas desejando que a ultima gota caisse tão imediatamente o dia surgisse.E em meio a noite atendo se aos exercicios,até que exangue adormeceu ali mesmo no chão duro e frio.



Quarta feira
Quarta feira
As ruas vazias , o mormaço ascendendo a alva.

Tentava em vão escrever algo. Mas era atitude nula. Pelo ato em si,pela incompreensão e reciprocidade que não poderia exigir. E de fato pela recepção que teria .Não importava a ela. Nao poderia exigi-la atenção além da que já tinha e fazia na suporta-lo.Não poderia exigi-la o mesmo sentimento ,nem poderia mesmo quere-la por perto ainda que por apenas por mais um pouco de tempo ou instantes que estendesse a sua vida

Desligou o telefone. Tinha a si mesmo. E isto o amedrotava. Mas não fora diferente a vida que passara. Inumeras vezes ladeado,mas sozinho. Cercado ,mas apenas consigo.Em meio a tantos ou outros ,mas seguia sempre sozinho nao podendo falar,ser a si mesmo. Apenas na penumbra sorrateiro, observando o mundo. Nenhum dia seria diferente. Não poderia. E aquele dia era apenas o dia de suas cinzas particulares ,enquanto recuperava o folego para talvez um dia seguinte.Suas cinzas particulares ,ludico e em luto da perda da qual não se recuperara. A cidade recomeçaria em sua rotina após os folguedos e fanfarras. E ele tambem , infelizmente,continuaria.

Depois de dizer isto uma tristeza .Ainda maior.Sim ,continuaria. A dor não o levava. Mas não cessava se nem mesmo com o impeto proprio a cansar o corpo.
O corpo extenuava se ,mas o acido latico produzido não era o suficiente para adormece-lo junto ao cansaço e quem sabe assim deixar passar aquele dai, aquelas cinzas e a dor que rasgava o peito.Arfava. Arfava e o peito ja o impedia de prosseguir tal como fora na sua ida a rua. Tivera de voltar .Tudo continuava, dia a dia. E tambem restava apenas olhar o telefone, mudo, e a vida, sem qualquer chamado .

Logo não poderia exigir de estrela que distava se cumplicidade ou reciprocidade como tinha como imaginava ser possivel. Suportaria o dia, era apenas mais um .Poderia pensar que felizmente era um a menos em sua consuetudinariedade de vida.Ele distava-se desejando estar por perto.E em seu sofrimento, parecia é causa-la alivio sem sua presença

Queria andar e não estar ali. Fugir ,esconder-se ora do impacto das alas sileciosas do campo de lápides frias, ora do imapcto das paredes daquela casa que atormentavam no, faziam no sentir velhas culpas e sentir as feridas ainda não cicatrizadas sangrarem enquanto cada minuto parecia denso pela lentidão e sofreguidão dos instantes.Tempos atras seria data de alguma alegria. Um abraço, mas agora somente saudades. Memorias que vinham acompanhadas da tristeza ante a falta, o silencio imposto pelo destino.

O dia
Tempos atras não queria imaginar segurar a tampa de um ataude. A mãe faria aniversario ali , no dia das cinzas. Mas fora-se. Deixando no com o bolo e velas imaginarias acessas enquanto o silencio e o coração doia. E vivendo o peso e sensaçao que nem mesmo o esforço que fazia a fim de extinguir lhe forças quase ao limite ,nãoo emudeceriam nas. A dor persistia.

Carnaval e cinzas. Revolvendo a poeira assoprada. E ele queria, sentia falta em escutar uma voz, e para si num gesto de carencia, um pouco egoista talvez, ter algum afago para afasta-lo de suas pesadas sensaçoes de culpas.As horas seguiam.E enquanto do oeste ansiava vir a tenue voz. A voz calando-lhe para apenas diretamente acompanhar lhe a alma junto as suas asas.
Mas a espera se fez longa.E a contento abraçou se á solidao que adentrava à porta .para abraça-lo. E a dor qual fosse em mais uma tentiva de emudece-las com esforço, sempre maior esforço, indo ao limite do que quase fosse suportavel. Um dia quem sabe, tudo se encerraria. Entraria em silencio,livre sob o peso do esforço em exaurir seu corpo como agora que deixava no ao chão frio.

Eram apenas cinzas.

A.

25 mar 2007

"Todo Carnaval tem seu fim"

Pequeno conto sem entremeios -Todo carnaval tem seu fim

“Ensaiei meu samba o ano inteiro,
Comprei surdo e tamborim.
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria.
E ela jurou desfilar pra mim,
Minha escola estava tão bonita.
Era tudo o que eu queria ver,
Em retalhos de cetim.
Eu dormi o ano inteiro,
E ela jurou desfilar pra mim.

Mas chegou o carnaval,
E ela não desfilou,
Eu chorei na avenida, eu chorei.
Não pensei que mentia a cabrocha,
Que eu tanto amei”

(Benito Di Paula - Retalhos de Cetim)


A folia era transmitida pela TV. Durante a tarde imagens no aparelho e à sua mente flashbacks de cada instante passado e a sensação única ,a de que não vivera nada daquilo. Mas tampouco se importava. Incomodava-se . Um tanto disperso, um ritmista sem ritmo, um torcedor sem rumo,um folião cambaleante, um sonhador sem sonhos, um insone com cansaço, um sujeito exausto que em vão tentava esquecer o que estivesse ao redor e apenas desejava cair em perpétuo sono. Carnaval.Clausura em meio ao festejo. Espirito atado ,desejoso apenas de estar distante de tudo aquilo.Nem incomodava-se mais, mas sim, tudo aquilo chateava-no. Não apenas o barulho, mas a percepção de tudo ali pelo aparelho de tv ou lá fora como poderia relembrar cada segundo visto,cada flash gravado em seus olhos...Cada momento somados a outros identicos mais ou menos vazios ou reflexivos.Olhou em direção a parede e a janela entre aberta. À porta,nenhum chamado. Ao telefone nenhum sonido e na vida nenhuma espera. Ergueu-se e olhou –se ao espelho...Mais um ano, mais um outro ano,reclamou a si mesmo

As marchinhas inundavam as ruas. Ultimamente fora feito um esforço de recuperação de cantigas carnavalescas antigas. Ate se empolgara cantarolando algumas. Mas os ritmos das mesmas eram diferentes. Era o mal da modernidade.Nem o passado permitiam ser mais o mesmo em identidade propria .Tal como via e olhava de soslaio, sentindo se aturdido, solitario e estranho .Carnaval. Carnaval. A epopéia dos aventureiros de romances e conquistas .As relações que se davam de forma descompromissada e efemera, apenas afimde viver prazeres naquele instantes. Não! - dizia.Era um mundo a si estranho,lascivo e um colorido ao seu olhar,um ritual monocromatico de cores artificiais, um festival de alegria passageira, frivola e pertubadora. Simplesmente por que os bailes ,as festas de ruas mesclavam um intimismo exarcebado. Gente que mal se conhecia de um hora a outra abraçados ou por qualquer lapso uma transa a mais ,ou esmurrão, golpe, um relógio e uma carteira a menos ...

Efemérides...

Confetes lançados espalhados pelas ruas e cabeças .E Vinha a chuva de papeis picados e coloridos.Sabão pressurizado aspergia se ao ar em espumas imitando neve.Traques, cabeças de nego, apitos,matracas, cornetas e muita voz humanas. Espocos de sussuros que mesclavam se ao burburinho ,ao balbucio de uma massa em extase enquanto distante, vagava ,ele,o fleneur das ruas,olhando as sacadas,as bandeirolas,a musica e aspirando só o vazio metafisico. “O ano vai passar, o ano vai passar...E minha vida não vou deixar .Vai passar ,vai passar na folia até me acabar” uns cantavam .Junto ao calor que vinha do meio da polvorosa os confestes faziam um colorido bonito sob o sol escaldante, e quando visse a chuva pior seria para os serviçais de Antoin Gary. Mas como ressabiados da tarefa a seguir os humildes funcionarios da limpeza publica, muitos ali,misturavam se a fanfarra aproveitando a pecha, desfilando em meio a balburdia num baile proprio ,uma quase encenação teatral.Outros mais sensatos ou só a espera de encerrar o bloco, de soslaio e credulos observando que toda folia teria fim e logo a eles seria abraçada a comum rotina de varrerem ,limpando a sujeira que era deixada.Restos da alegria dejetos do desejo ,da luxuria, das ilusões

Orfeu e sua lira unia gregos e troianos. Parecia a quem visse que cumplicidade o fora deixada de lado junto a regras. Era a volatilidade da companhia e da confiança estreitados pelas reações instintivas O convivio era apenas a folia e a farra em meio a individuos quase nus, tropegos, gaiatos, loucos, transvestidos e o mundareu de confusao , um desvario coletivo, uma catarse de ebrio e instinto .O caos,o caos em si e pujante pela miscelanea humana pelas ruas presente em festejo .

Um show vagabundo ali acontecia. A desmoralizaçao não era sobremesa,era prato, com a nudez ao invez de aviltar, apenas desmitificando a materia do corpo humano feminino .Uma beleza cujos traços suaves agora enojavam-no pela vulgaridade exibida ali ao lado ,naquele show absurdo como o de um qualquer cavé de grande cidade.Eram corpos a exposição demasiada num ato que não conseguia admirar senão contextar qual valor consistia naquilo de tantos exporem só para viverem momentos efemeros e tão vazios junto a outros que estavam ali só para despojados de pudor mercantilizarem a propria materia, sem valorarem a si mesmos.

Que chovesse, e as aguas limpassem as ruas,desejava, embora o ceu permanecesse limpido.Que chovesse e as aguas junto ao vento limpassem aquele cheiro, calando também as ruas e a mixordia.Chovesse e apagasse o folguedo e impussese sob a força da natureza uma minima disciplina para esvaziar as ruas e diminuir o alarido daquele mundo lubrico. Sentia se cada vez absorto,distante, embora permanecese no mesmo espaço que pouco perambulara.Nao era interessante estar só em plena multidão, então recolheu- se , atravessando os mares de gentes , vez outra sendo visto, chamado para alguma conversa. Mas aquelas vozes e misturas de cheiros não atraiam-no. Tampouco aquelas poucas roupas de possiveis consortes de uma noite apenas. Eram efemodemias e não ,não valia a pena. Seu corpo nem manifetava se ali naquele tropel de passos ,por que sua mente distava-se a um ponto cardeal distante.

Seguiu abrindo espaço com as mãos. E as ofertas davam se a vista banstando apenas um toque. Mas não eram noites para si, nem para estar de tal forma acompanhado. Sentia se só, por que não existia razão falar de si e sobre si e sobre um mundo como tanto desejava, mas não ali e sem a Alma ao lado Aquelas vozes não o atraiam. Vozes sem nomes, rostos apenas mais rostos em proximidades da qual desejava manter distancia nem mesmo para escuta-las em meio ao comum festivo. Desejava ,sim, afastar-se ja enjoado por observar aquele devaneio coletuvo. Caminhou ,saindo tirou a humilde mascara de papel. Riu. Olhou para os lados e viu bebados ou drogados que lançavam seus dardos de palavras brejeiras para jovens que passavam.Uma destas olhou no de cima a baixo, convidativa fez-se,mas ele olhou para outro lado.Não ,nada daquilo interessava-o e arrependera de sair ao contato com aquele mundo de mascarados, clovis, bebuns ,palhaços e luzes, vozes e apupos ,para naquele instante deixar-se sob o imenso salão do ceu observando algumas estrelas. O cruzeiro do sul apontava e sua flecha imaginaria apontava ao oeste, ao oeste tão distante.

Em meio a turba lá fora o amr de gente que deveria atravessar .Seguiria , não esperaria a madrugada ganhar espaço,pois o que desejava era uma unica companhia.A unica e toda , e necessaria ao seu mundo.Mas ali cabia apenas imiscuir-se , enquanto afastava-se . Quem ele almejava não poderia estar jamais em meio aquele folguedo espurio e dionisiaco.Seguiu, com os passos pelos pés de moleque da rua. Ecoa va agora forte seu proprio silencio a medida que distava se do local da folia, rumando sob a penumbra Agora escutava um som ja antigo de paradas pop rock em seu peito.De Alguma sacada pensou escutar uma musica dos’ Los hermanos’,mas enfim, deveria ser apenas consigo,por que apenas ele não vivia aqueles dias de rotina. A musica seguia, seguia e a si sabia que nem mesmo tivera oportunidade para dize-la: “ Deixar eu pintar o meu nariz deixa eu brincar de ser feliz”...Não.não sabia brincar daquilo. Tivesse-na ao menos por uma só vez mais ... uma vez mais e tavez fazer –se ser ouvido e quem sabe também traze-la um riso, um alivio ,mutuo,uma vez mais apenas...mas era o seu limite. Tinha de estar só,apenas mesmo consigo.

Quatro e quarenta e cinco.Caixa postal vazia e nenhuma chamada no celular .Nenhuma espera.Voltara e mais um dia. Pela tv a monotomia assumia o comando. Respirou fundo teclou um numero ao telefone. Estava mudo. Foi a janela olhou para o céu distante plumbeo.Chuvas viriam,mas o oeste continuava distante. Voltou e deixou se sucumbir ao desanimo e divagaçoes ruins e sobre o minusculo sofa caiu em pesadelo.As cinzas viriam, para somarem se ao sentimento de grande vazio.

Essência
(Wilson Simoninha)

Garrafas de cerveja
espalhadas pelo chão
um sapato velho perdido
lembrando a confusão
o samba de ontem não acabou bem
o samba de ontem não
acabou bem, não
porque, porque
o samba não é só um dia
o samba
não é só folia
o samba se parece com a vida
nasce e morre todo dia
pra ser

essência
corpos e construções essência
beijos e lições
essência
corpos e construções
essência
entre beijos e lições
essência...


"Ainda bem que todo o carnaval tem seu fim" e deixou-se,mudo.

A.

21 feb 2007

21 de Fevereiro -"Mãe".

21 de Fevereiro- “Mãe”

(A espera de um Anjo ,escutando Bach em uma Quarta-feira de Cinzas)

Toca o violino que emudeceu um dia.Desafinado mas insiste o tocador em sua lembrança.Não é musico ,apenas nostálgico.Nada senão alguém em espera preso ao tempo ,olhando o vazio enquanto as notas seguem falhas ,em be mol e o dedo inseguro na paleta e na corda rija fazendo o tom mais triste e grave .
Andante in concerto para violino en fá maior
Largo ma non tanto violino em ré menor
Solitário atravessando em sua saudade o tempo. Tantas saudades enquanto olhando ao Oeste espera um plainar de um Anjo, mas seguem-se as horas enquanto decai em sua espera.

Cinzas.
Para um bom ouvido apenas ouvinte. Apenas ouvinte enquanto não se atem a memória dos festejos ,mas sim ao silêncio o qual impera na casa.

Mais um ano. E por esta razão e mais outras ,mais alguns anos.De denodo, insônia, letargia e silêncio.Na ânsia por um riso.Na espera por um abraço. Mas apenas as paredes, as mesmas velhas paredes que contam o tempo, podem abraçá-lo.As mesmas paredes que cedem ao tempo cada vez mais rudes, mais escurecidas presas pela progressão dos anos mais cinzas , em coro com o silêncio no minguo espaço apenas para proferir quase inaudíveis sinfonias direto ao coração o qual responde ao silêncio e a falta de cor sob o micro clima que estaciona. Culpa remorso ou apenas saudade. Mas pouco adianta, enquanto ao mundo prossegue, no marasmo sob os dias, em semi penumbra e ali, na impossibilidade de retornar e viver um outro momento. Apenas passivo, numa reflexão sem retorno, apenas aspirando a secura do ar que se rarefazia.

E o que seria bem quisto? Senão um momento para si ,mas que não fosse subtendido como egoísmo . Não queria sentir pena de si mesmo,mas todavia não suportava mais aquele silencio e ânsia Desejava deixar de sentir a marca do passado e olhar ao lado e ter um abraço.O abraço que esperara em vão desde aquele fatídico dia ,anos atrás. Esperava uma voz, um abraço ,mesmo distante , mas cabia senão apenas esperar. Enquanto que as horas vagarosas daquele dia passavam sobre o mar do silencio e as vagas assoprando lhe poeira sobre si e sua vida.

Doce parecia ser o amanhã. Sempre continuo, lugar o qual se pode adiar todas as decisões e o grande medo de enfrentar o vazio .Difícil explicar ,mas embora ainda em convívio ,sentia-se sozinho .E como ela tantas vezes pedira , que um Anjo,intercedesse por ele quando deixasse a todos e ele então estivesse sozinho. Mas nisto estava a relação de coisas em que se encontrava inocuamente esquecido, afeito apenas à lembranças, sem te-las como dividir, tampouco a sensação de tristeza e fardo que trazia consigo.O Anjo ,dele não sabia. Nem cabia pedir ajuda , por que olhava a outros, num vôo a uma outra procura distante.

Valão dos Milagres .Seis meses depois o registro. Mas não era canceriana .sim, pisciana. Serva sofredora como o epíteto em que a mesma aclamava em seus momentos de doença. De uma segunda de chuva em meio a ventania. “Sheni” como acusavam a velha ter proferido em sua loucura. ‘Geni’ , em rápida interpretação a santa católica.

Órfã cedo .Vieram também a Varíola,um acidente, uma paralisia de dois terços de década, reabilitação e êxodo.Décadas depois viria a se casar e contrariando diagnósticos, a ter também um filho.

Agora deixara a casa para então reinar o silencio .Silencio apenas quebrantado por uma espera em que em um dia o renovo visse a uma vez mais contemplar o que fora família.Saudade das tardes quando sob escaldante calor a casa abafada ficava com o filho ao chão da sala. Escutando um aparelho Rádio Am. As músicas mais antigas e do Brasil caipira também.Era a saudade do interior bucólico da infância que acima das moléstias permeava se de historias,casas antigas, bichos,matos e muitos familiares e conhecidos.Ao rádio programas de auditórios, músicas, serestas, violas e a Mpb inundavam aquelas tardes enquanto costurava alguma roupa ,preparava a comida ou tecia comentários a respeito ao que do radialista .Podia agora escutar o ecoar de varias seqüências musicais, principalmente aquela”Concerto para uma só voz” do cancioneiro Jessé ou atendo se as paredes dos cômodos, uma vez mais Bach em suas notas difusas, como dispusse –se a narrar toda uma rede de trajetórias de vidas e agora o crível silencio.

Saudade dos abraços.E mesmo de quando ralhava . Sua preocupação jamais como de outra. E mesmo em dias tensos e de enfermidade ainda erguia-se insistindo para cuidar da família .Pudesse juntar a todos numa foto, tal como ilustrava uma gravura à sua paleta e a tintas simples... Todos os rostos lado a lado num abraço único.Os esperados ou já vindos e os que já tinham partido. Numa imagem explícitos para a memória ,
numa quebra da regra do lugar ,tempo e espaço.

Saudade, saudade
Por que fostes da minha vida
Ainda quando nem mesmo tinha começado a viver a minha
Fizestes as tardes agora serem mais vazias,
O sol mais forte ou os dias de chuva mais silenciosos ,
Sob o impacto da falta de companhia.
Na faculdade, no trabalho, em qualquer canto ou dia...
Mas agora ainda mais

Enganastes-me
Dizendo que só deixarias-me quando não mais estivesse sozinho.
Mas ainda sigo em tal procura
Uma parte de mim já tendo partido e a outra em busca ou espera
Mas jamais algo encontrando...
Enquanto esperei lá, naquele fatídico dia carregando seu ataúde.Esperando um abraço que me confortasse e como temi, ainda até hoje sinto falta deste abraço

E segues
Singra agora a Olam HaEmet. Ao mundo da verdade ,deixando sua pousada e aqui as lembranças.Seu rosto, seus retratos que o tempo insiste em quere apaga-los e esta dor. Tão forte que ainda assim me é a marca de que nunca a tenho esquecido mãe.

Hoje seria mais um dos teus dias.Seria o teu ‘conta anos’ como ironicamente dizias. E tarde fui perceber que a cada gota caída ,seria à ti uma gota a menos de vida.Em vão tentei mante-las em minhas mãos aparando-nas .Em vão, em vão .Tentei na segurar junto comigo, mas falhei ,escorreram ,gota a gota, por entre meus dedos, fugiram de mim tomadas pelo tempo ,enquanto deixaram só este peso ,esta falibilidade dos meus atos e ações. E assim guardar o que só posso dizer a mim mesmo porque não há com que dividir este sentimento, esta culpa este remorso, posto que,se soubesses que a cada ano que passava ,tu ,mais um pouco partias e deixava-nos a cada instante , muito mais teria sido um filho.

De São Fidélis para o descanso . Ao breu do silencio ,ao destino nas mãos daquele que a criou. Sepultas sua presença calando-se. A sensação deixada por dentre as alamedas e as tumbas velhas de cores decaídas. Agora ao pó. Nada senão apenas ossos .Do pó para ao pó retornastes para completar o ciclo, aqui, enquanto a alma prossegue na vontade do Criador do mundo, também em silencio, em silencio profundo quebrantado apenas por este desabafo.

“Caminhas,
Caminhas, agora apenas memória.
Agora em silencio pelas alas de cimento cru e sem vida.
Caminhas
Caminhas, quando no dia foi trazida .inerte,sob repouso
Para sobre o corcel do vento, prosseguir.
Em viagem ou destino
E guiar-se para as nuvens do silêncio.
Calando se ao mundo
Deixando par, filho e saudades.
Agora apenas memória
Apenas memória
Fotos apagadas, vozes as quais se ouve às vezes num canto
E nada mais
Nada além de passado
Para agora,
À procura nada mais encontrar
Por entre as paredes, corredores frios e esquecidos
Pelas alas semi-intocadas, esquecidas
Apenas visitadas pela poeira e chuva .
Junto ao ar ,o fagueiro transeunte aspergindo saudade,Saudade e lembranças dos que dormem sem nome

(...)

Saudade
Saudade
Enquanto deixastes a casa
E fostes embora
Precisávamos de ti .
Não queríamos deixa-la partir seguir embora
Mas fostes para sempre
Em silencio como o de agora...
Pedi ainda para que ficasse por mais um pouco
Mas como sempre ,algo além do meu inútil esforço
Fostes em um instante e sem deixar qualquer palavra
E agora
Estamos apenas a sós.
Em silencio
Eu, o pai e o irmão
.”
- ‘A’


E naquela espera ,olhando ao Oeste ,aonde estava o Anjo, senão distante ?


21 de fevereiro de 2007.

18 feb 2007

Do G7 ao G-13 na Alemanha. Um caminho que não seja a porta dos fundos!

(acima :Davi X Golias)

Vidas Marranas -visando um caminho alternativo que não seja a porta dos fundos.


“O essencial não é o que foi feito do homem, mas o que ele faz daquilo que fizeram dele”
-Jean Paul Sartre



Do G-7 ao G-13 -O que poderíamos entender sobre o encontro do G7 realizado na Alemanha - Armando A.



Frente a rodada de cúpula entre os paises mais ricos e industrializados do planeta, numa reunião que abarcava mais de 2/3 da economia mundial, aconteceram protestos de vários grupos de ativistas e entidades não governamentais como crítica aos mesmos,os mais ricos, pela desigualdade existente no planeta bem como a desproporcionalidade de acessos as benesses deste pseudo desenvolvimento aclamado .Enquanto como negociantes esperava se soluções frente a ameaças de crises e claro a disputas por melhor espaço e hegemonia econômica mundial dos blocos, ficou também clara ,pelas criticas de que a solução não é uma economia globalizada por que eu não se globaliza a riqueza ,mas as diferenças .E estas acabam por se tornar desigualdades se dispormos dos exemplos de discrepâncias existentes na esfera planetária.Cabe frisar que tal encontro se dá semanas após a realização do Fórum Mundial Social ,realizado este ano de 2007 em Nairobi, Quênia,África[1].





Participaram os países emergentes desta reunião como a Rússia, China, Brasil, Índia, México e África do Sul. Com esses países, o tema central será a retomada da Rodada de Doha e maneiras de proteger os mercados financeiros destas economias ‘emergentes’.A integração de paises emergentes ao seleto grupo das nações mais ricas do mundo tem como objetivo uma preocupação futura:a disputa pela hegemonia mundial entre dois blocos :Os EUA e a UE bem como através de acordos, atrair estes países para sempre maior campo de negociações e vínculos comerciais no que se estendem desde a uma rede de créditos e juros negociáveis, ora ,a clara estratégia de aos mesmos ter tal estreito vinculo de modo a pesarem na balança a favor da Europa,isto em medidas de mercado internacional em que o euro teria sua unidade reforçada ,rumo cada vez mais a ganhar espaço como moeda internacional .Ao discutir o ingresso de novos participantes, os ‘emergentes’, sem sombra de dúvida, como parceiros,e também países que possuem economias grassadas por um desenvolvimento, sim,mas atrelado a uma cadeia de dependências do capital especulativo,mas que possuem características econômicas interessantes e indispensáveis ao mercado europeu.





Como emergentes neste países há sobretudo a existência ou aparecimento , com no caso da Índia e China, de uma classe média com alto poder de compra /consumo para a tecnologia de ponta a ser exportada,sobretudo, pelos europeus,cita-se Alemanha,França e Inglaterra. No mais um mercado consumidor invejável pelo seu porte de produtos,bens de consumo e noutros casos,celeiros de produção de gêneros agrícolas.Neste ultimo exemplo podemos pensar isto como indispensável ao crescimento europeu ,haja vista que a própria Europa ocidental olha para a Europa do leste com os olhos de quem necessita de grãos, água, gás , minerais,... Na ponta , os “emergentes” Brasil, México e África do Sul.Cabe ainda acrescentar que também como medida para o campo das negociações ,é mister ter mão de controle do crescimento voraz da China[1].É preciso observar o dragão, tirar proveito do crescimento desde, tal como com a chegada de cada vez mais multinacionais na China ,de tecnologia de ponta no caso com a dos veículos, controlar o excesso de mercadorias chinesas de pequenos custos e preços, algo que a medida que a China reivindique sua inserção ao grupo, passe pela sabatina e crivo da OMC , a organização mundial do comercio...





Quanto à política monetária, a reunião do G7 apóia plenamente o reinício das negociações da rodada de Doha para a liberalização do comércio internacional, em um comunicado divulgado ao fim da reunião de ministros das Finanças mas condenou as oscilações eque sucedem –se nas economias emergentes, com crescentes superávits,quando discute-se a razão de o câmbio ter de mover dentro de limites que ainda permitam as adaptações necessárias, numa estabilidade.As negociações da rodada de Doha foram suspensas em julho do ano passado. No final de janeiro, os países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) . A tese é de que a liberalização do comércio no mundo melhorará o crescimento mundial e contribuirá para reduzir a pobreza, destaca o comunicado do G-7(tese contestada por ativistas de oposição e claro a própria proposta do FSM).



Os países mais industrializados do planeta se comprometeram ainda a facilitar uma ajuda ao comércio para que os países em desenvolvimento se beneficiem plenamente desta abertura, segundo o texto.Também pediram mais cooperação para reforçar os direitos de propriedade intelectual e combater a falsificação, fatores cruciais para a ‘economia do conhecimento’. Anos cabe a observação de que este sistema em que se atrelam os países emergentes, de forma dependente somente aguça a concentração de renda do ponto de vista regional do ponto de vista social. A riqueza que é gerada não se irradia sobre o país inteiro nem sobre a sociedade inteira ate por que as teias de negociações quando assim entre sistemas privados fogem da mão do Estado para que se possa melhor redistribuir as divisas criadas





Então o que observamos e tal como já podemos exemplificar dentro do quadro acima citado é que sojeiros,a industria do agronegócio, dentre outros exportadores de ‘comodities plausíveis’ ao mercado internacional e multinacionais que aqui produzem (ou como cabe dar um exemplo claro, a V.R.Doce ) extraem e exportam ,e assim se beneficiam destes acordos.Obvio,isto propulsiona a nossa economia: Frigoríficos, têxteis, peças de veículos, calçados, ...Mas ainda assim a riqueza consolida novos desníveis existentes ,aprofunda -os, sistematiza ainda mais os privilegiados onde apenas os estratos mais altos da pirâmide social são os que recolhem as benesses desta produtividade e negociação. Tal como frisava Celso Furtado, certo que no contexto dos anos 60-70,mas aqui repito, a América Latina, o Brasil ,tem de criar alternativas singulares a sua conjuntura. Negociar com os EUA e Europa ,sim, todos desejam, mas jamais abaixar a cabeça ,por que na condição de economias com setores estrategicamente sob o interesses destes,tem-se de saber negociar, romper monopólios, protecionismos de mercado tanto europeu quanto norte- americano .E não se pode repetir e aplicar um quadro de fora aqui dentro.Pois este sistema do ponto de vista humanitário e solidário,o é falido. E volto a análise furtadiana, a de que mesmo nos países em que mais avançava o processo de acumulação, parte da população não alcançava o nível de renda real necessária para satisfazer o que se considera como sendo necessidades elementares, e a estes ‘emergentes’ o risco da desigualdade se ampliar junto a um crescimento incompatível e que pretende assemelhar se ao ritmo das potencias capitalistas do norte.






[1] Evento anualmente realizado desde 2001 com o intuito de promover a discussão a despeito da produção de riquezas e a reprodução social ,o acesso às riquezas e a sustentabilidade,via a mobilização da sociedade civil numa proposta de estabelecer uma Carta de Princípios de maneira a garantir o Forum Social Mundial como um espaço e processo permanente de busca de construção de alternativas em âmbito mundial. Para tornar possível a articulação do processo ,em nível internacional ,dentro da concepção do FSM se constituir como um espaço democrático e aberto de encontro que favoreça a construção de um movimento internacional aglutinador de alternativas ao pensamento único neoliberal.





[2] Em pouco tempo, a China deverá tomar o lugar da Alemanha como maior nação exportadora do mundo. Cerca de 60% dos lucros, porém, não ficam nas mãos dos chineses, mas de estrangeiros. Por exemplo: quando um grupo como a alemã BASF tem uma unidade em funcionamento na China e esta vende produtos para outros países da Ásia, as exportações são consideradas chinesas. Ou seja, 60% do número de exportações do país têm bases estrangeiras, tendo sido produzidas em fábricas fora do país ou criadas através de joint ventures de estrangeiros com chineses. Os lucros obtidos com as exportações, diga-se de passagem, também nem sempre surtem efeitos no mercado interno – vide os sucessos das exportações alemãs e as altas taxas de desemprego no país. Com relação aos chineses, a situação é semelhante: eles gozam de poucas vantagens imediatas com os altos índices de exportação do país. Um aspecto que não pode ser ignorado, contudo, é que a China domina algumas áreas do comércio internacional, como o setor de têxteis e eletrônicos, mas está bem atrás no número de exportações de máquinas, produtos químicos e indústria automobilística. Nestes setores, os progressos ainda não são altos o suficiente para que a China possa se sobressair na concorrência internacional.

14 feb 2007

A Educação desalojada no Rio de Janeiro.Um absurdo na vida real!

http://vidasmarranas.blogspot.com/

Educação desalojada no Rio de Janeiro!!!



Imagens de manifestação realizada no lgo da Taquara

Prof Robson e Oswaldo em ação






Manifestaçao realizada na Gávea-Zona /sul

Educação é desalojada na capital Carioca.Os 'sem lugar e teto' de uma rede de solidariedade voltada para a inclusão ,reivindicam!!!


O “Vida Marranas” não pode se ausentar também nesta questão. ‘Sem tetos da educação’ clamam por lugar, lugar este legitimo dentro do uso do direito pela própria Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro- em seu artigo 324, inciso IV -o qual dá juz a reivindicação para o uso de dependências de escolas municipais para fins comunitários. E a rede de prés vestibulares comunitários nada mais são que a resposta em solidariedade e ativismo sem partidarismo frente ao sistema exclusor .O PVNC (Pré vestibular para negros e carentes) ao longo de mais de uma década e de existência ,possibilitou o acesso de milhares de jovens pobres e de origens marginalizadas à universidades públicas e de boa qualidade. E tal movimento não pode sucumbir perante um ditame da prefeitura do senhor prefeito ‘Imperador’ César Maia (PFL –RJ)

A atitude foi minimamente de péssima estratégia politica ou racista, friso,por parte da prefeitura para com jovens negros e brancos pobres da periferia do municipio.O Sr. César Maia desalojou, através de um decreto administrativo, cerca de 10 mil estudantes destes Prés vestibulares comunitários ,projeto que funciona há 12 anos nesta cidade e conta com mais de 120 núcleos que, através de aulas gratuitas, preparam alunos pobres oriundos da rede pública para o vestibular.

Com essa proibição, cerca de 12.000 jovens por ano ficarão sem essa única oportunidade de ingressarem no ensino superior. Será ele tão desinformado a ponto de não rever o seu erro e reavaliar o caso e suas alegações quanto a "gastos além da conta da energia elétrica, depredaçoes(...)"? (...)"? Uma péssima atitude politica e que dirá de principios vindo de alguém com tantos anos de vida pública ,quiçá ética por que vinda de alguém pretenso a disputas politicas além limites fluminenses.Como professor delineio um fato isolado foi ocorrido e ao contrário das alegações irrasciveis a presença destes Prés Vestibulares pelo contrário reforçam a segurança e zelo das escolas,uma vez que salas ociosas em fins de semana e a noite ganham presença via os interesses da comunidade ao redor.Será que então Sr César Maia não consegue perceber o quanto da importacia deste projeto em prol da inserção e democracia ao acesso ao ensino superior?

Os jovens excluídos de hoje , negros e brancos pobres , são o futuro da nossa sociedade. Esse projeto já tirou jovens da pobreza e da exclusão social e os colocou na universidade. Ele não pode parar. Ele não pode impedir o sonho de milhares! Unidos somos fortes. Precisamos pressionar o Prefeito. Precisamos fazer com que ele volte atrás.

Agora temos de refletir em conjunto sobre os próximos passos que daremos em relação a esta proibição da Prefeitura. O Prefeito manteve a sua posição de proibir o funcionamento dos pré-vestibulares comunitários nas escolas municipais. Em reunião com a assessoria da Secretaria Municipal de Educação,formalizou-se a proibição através da negação ao nosso pedido administrativo. Isso nos legitimou para entrar com uma representação no Ministério Público Estadual contra essa proibição (agora uma proibição formal, e não simplesmente uma circular).Em função retomaremos a nossa luta, pois graças a todas as movimentações realizadas tivemos uma aderência grande de outros movimentos sociais ligados a educação popular. Além disso, as nossas manifestações ajudarão bastante a atuação do Ministério Público Estadual.Continuam pisando no nosso jardim. Não podemos ficar calado frente a essa injustiça. Precisamos muito reforçar a importância do espaço público e a gravidade da decisão do Prefeito. Ela não afeta apenas aos Pré-Vestibulares, mas a toda a sociedade !!!

Cabe frisar que desde 22 de setembro, uma circular da Secretaria Municipal de Educação, enviada às Coordenadorias Regionais de Educação, comunicava oficialmente a interdição, que passará a vigorar em 2007. A medida – amparada em decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a partir de uma ação da prefeitura – torna inconstitucional a lei 3945/05. A legislação permitia a utilização de unidades da rede municipal de ensino por cursos pré-vestibulares comunitários.Desde então ao ser procurado por reportagens de um jornal carioca de grande circulação, Cesar Maia justificou a medida por “questões sanitárias e de segurança”. De acordo com o prefeito, em determinadas unidades “alunos fizeram necessidades no chão, sujaram o banheiro das crianças, fumaram maconha”.As acusações são graves e levianas. Sempre é possível que haja um problema pontual, mas não se trata de um movimento de porcos ou drogados. Sempre o Movimento dos PVNC’s tiveram boas relações com as direções das escolas.

Vale ressaltar que a decisão do Tribunal de Justiça não impede sumariamente que a prefeitura ceda as unidades do município aos pré-vestibulares. Apenas determina que não há obrigatoriedade desta cessão. Ceder ou não é uma prerrogativa da prefeitura. Mas o prefeito usou a decisão judicial e a transformou em decisão política. Existem motivações políticas dentro das próprias comunidades, vereadores que se sentem ameaçados. Já recebemos visitas de representantes políticos. Este é um trabalho muito importante para as comunidades. Não apenas por causa do vestibular, mas pelo caráter de cidadania. Portanto, não interessa a determinados políticos a formação de pessoas que 'pensam', e as razões alegadas por Cesar Maia não refletem a decisão judicial. Uma leitura rápida do despacho do juiz dá a entender que ele apenas apontou para a inconstitucionalidade de uma lei. Portanto, é preciso apresentar uma real justificativa aos cursinhos.Um precedente perigoso no sentido da falta de diálogo entre o poder municipal e movimentos de base.

Digo assim que a situação é crítica,mas ainda assim com esperanças.Todo movimento social necessita de mobilização.E acima de tudo de visualização frente a mídia.Passeatas já foram organizadas,veiculaçoes já mostradas.Ainda assim o Imperador,digo prefeito, César Maia ainda teima em não aceitar que sua jogada -e estratégia, para assim retroceder. Mas o que importa é que continuaremos! Em outras dependencias, mas seguiremos!Minha posição quanto ao Pré e as aulas é de abandonar a casa nunca, e como os demais dizem, eu os apoio.Acima de ser um curso comunitário,O Pré é um curso 'familia'.E onde lê-se o suor e sangue de tanta gente competente e mobilizada que passou por ali e que ainda lutam e que jamais abdicariam , determinados sempre, jamais retrocedendo, sempre segurando a bandeira por mais desigual que seja a luta.Mas a luta continua e acima de tudo não por eles apenas,mas pelos futuros alunos.

E nesta deixa uma dita rápida,mas contundente: o nosso governo propôs mudanças e já temo-nas feitas.Mas quanto ao acesso ao ensino superior e ao paliativo em voga devemos pensá-lo com coerência: Faculdades reprovadas pelo "provão"ainda estão aí, de portas abertas a alunos via PROUNI. Instituições até então quase falidas se recuperam graças a este fôlego do governo... Haja vista que nossa luta é por um verdadeiro espaço que é o de aluno na faculdade de boa qualidade,publica,friso.E não apenas'na que for possível chegar.Ou seja há um movimento tripartide de forças:pelo acesso ao ensino superior, melhoria do ensino superior gratuito e imprescindível melhoria do ensino de base afim de que num futuro,espero que próximo, paliativos não sejam tão necessários e determinantes para sanar as desigualdades sociais e étnicas que ,ainda,abundam nossa Nação.

Memória,Esquecimento e Ações no Presente


Memória ,Esquecimento e Ações no Presente

Em um momento contundente no qual a mídia enfatiza sobre direitos humanos no país e na esfera internacional, não poderia calar-me a um evento realizado a uma semana atrás em São Paulo - A cerimônia religiosa do Dia de Recordação das Vítimas do Holocausto A menção ao referido encontro firma-se a sobre uma dita frase expressa na Torah,o livro sagrado judaico:

“Recorda os dias do passado lembra os de geração em geração“- Devarim

Não poderemos aceitar a discussão, se foram seis milhões ou cinco milhões ou 999 judeus queforam massacrados. Ainda que tivesse sido apenas um judeu vítima do Shoá (Holocausto), nós não deveríamos estar rediscutindo a História. Temos que afirmar, em alto e bom som, que nunca mais haverá Holocausto na face do nosso planeta. O Holocausto ainda tão presente em nossa memória não pode ser esquecido tal como em nosso dia- dia não podemos emudecermo-nos perante as milhares de vitimas que morrem anônimas em massacres no Sudão,ou os outros milhares que morrem diariamente vítimas da fome,intolerância e exclusão seja América Latina ,na África,nos guetos presentes na Europa ou no continente asiático.

Cabe frisar que nesta cerimônia estiveram presentes mais de 1.000 pessoas dentre as quais a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ,sua esposa Marisa , José Serra, Jacques Wagner, Gilberto Kassab; o presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Dom Geraldo Magela ; além dos embaixadores de Israel, Tzipora Rimon; dos EUA, Clifford Sobel, e da Áustria, Werner Brandstetter; do vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman; da assessora do presidente Lula, Clara Ant, e dos ex-ministros Claudia Costin e Celso Lafer.

Na sinagoga , Lula frisou: “Nunca poderemos aceitar a negação do Holocausto”.Ele recebeu também o “Livro de oração” e o “Pirkei Avot” (“Ética dos Pais”) das mãos de Dora Lucia Brenner e Abraham Goldstein, presidentes das duas entidades promotoras do evento, a CIP e B´nai B´rith do Brasil. Goldstein destacou a importância da educação no combate ao negacionismo: “Não acreditamos que um ensino de qualidade possa prescindir do conhecimento e dos valores da História, incluindo os ensinamentos do Holocausto. Assim, solicitamos que seja incluído no currículo do nosso programa básico de ensino a educação multidisciplinar sobre o Holocausto”. Lula prometeu levar a reivindicação ao ministro Fernando Haddad, da Educação:“No século XXI nós não podemos aceitar a negação do Holocausto como um fato histórico. Também não podemos aceitar aqueles que negam o massacre de seis milhões de judeus. Cada vez que prestamos homenagem às vitimas do Holocausto, nós fortalecemos as forças que irão prevenir que um horror igual possa se repetir”.
O rabino norte-americano Israel Singer, diretor do Congresso Judaico Mundial, elogiou a atuação de Lula contra o anti-semitismo e pediu que “ensine ao mundo o caminho para a liberdade”. Já o rabino Henry I. Sobel, presidente do Rabinato do CIP, destacou que a santidade da vida humana continua sendo tragicamente desprezada. “Os 62 anos desde a libertação de Auschwitz não diminuíram a necessidade de recordar. O racismo e a xenofobia não morreram, o genocídio e a purificação étnica aos grupos étnicos ainda ferem e envergonham a humanidade. O ódio religioso e a bestialidade do terror matam a sangue frio milhares de pessoas”. Nas palavras do próprio presidente fica tácita sua ênfase a luta contra a discriminação e racismo,não só abarcando a questão do anti-semitismo,mas acompanhado da nossa rica formação étnica, contra toda forma de discriminação étnica e social.

“É, realmente, uma honra participar desta solenidade na sede da Congregação Israelita Paulista, uma organização que existe há mais de 70 anos, que nasceu com o intuito de servir de refúgio e abrigo a milhares de judeus que buscaram no Brasil a paz que lhes foi tomada pelas perseguições em seus países de origem.Ao me pronunciar aqui, nesta sinagoga, não posso deixar de agradecer a Deus pela oportunidade que me deu de governar um país e um povo de profunda vocação democrática. Em sintonia com essa vocação, e na qualidade de presidente da República, tenho investido para aprimorar, cada vez mais, mecanismos que impeçam a proliferação da discriminação, da intolerância e do preconceito contra a comunidade judaica ou qualquer outra comunidade.
Nosso País tem boas leis. O racismo e o anti-semitismo são crimes inafiançáveis. Mas é claro que a lei não é suficiente para impedir o aparecimento de anti-semitas, racistas, intolerantes e preconceituosos. A lei nos dá, sim, a garantia de poder puni-los.Por isso, é fundamental a formação de um escudo de proteção contra esses crimes, formado pelas instituições, práticas e organizações democráticas da nossa sociedade. O governo vem se empenhando para fortalecer esse escudo. A sociedade tem que estar preparada para corrigir as eventuais falhas do nosso governo(...)A comunidade judaica, toda e qualquer comunidade, grupo étnico ou religioso, tem total garantia do nosso governo. Duas Secretarias Especiais, com status de Ministério, ligadas diretamente à Presidência da República, têm sua atuação principal voltada para a defesa dos direitos humanos e a promoção da igualdade racial. A primeira é a própria Secretaria Especial de Direitos Humanos, comandada pelo nosso companheiro Paulo Vannuchi(...)A segunda é a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, que conta, no seu Conselho, com a senhora Anita Schwartz, representante ativa da Conib, a Confederação Israelita Brasileira. Em resumo, todo o Brasil e todo o governo estão orientados a agir sem tréguas contra qualquer forma de discriminação e de intolerância.Reiterei isso, no primeiro dia deste ano, quando diversas representações da comunidade judaica estiveram em Brasília, prestigiando a minha posse.

Cabe frisar que as resoluções dos grandes problemas mundiais, como as persistentes desigualdades econômicas e financeiras entre as nações, o protecionismo comercial dos grandes, a fome e a inclusão dos deserdados, a preservação do meio ambiente, o desarmamento e o combate adequado ao terrorismo e à criminalidade internacional não evoluíram tanto quanto seria preciso, ou seja, a paz e a democracia ainda estão ameaçadas em muitas partes do mundo.Nesse sentido, foi muito importante que a ONU tenha instituído, a partir de 2006, o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto. Melhor ainda, foi a Assembléia Geral da ONU ter aprovado, na semana passada, a Resolução que condena, sem nenhuma reserva, qualquer negação ao Holocausto. Essa mesma Resolução pede que todos os Estados membros rejeitem, sem reservas, qualquer negação do Holocausto como fato histórico, seja no todo ou em parte, e que condene, também, qualquer atividade que tenha esse fim. O Brasil foi co-patrocinador dessa Resolução, aprovada por consenso com a presença de um número expressivo de países. Cada vez que rendemos homenagem às vítimas do Holocausto, estamos ampliando as forças para impedir que esses horrores se repitam. Aos que foram assassinados, aos que sobreviveram, aos que acolheram os sobreviventes, aos que sublevaram nos campos de concentração e aos que resistiram nos guetos, a todas as vítimas do fato. Esses heróis não lutavam por si próprios, mas para salvar a honra de um povo inteiro, para dar um exemplo de resistência à toda a Humanidade. E cada palavra de repúdio e de condenação a um anti-semitismo e à intolerância, cada esforço para se contrapor às ofensas e agressões, cada gesto de solidariedade em favor dos ofendidos, tudo isso constitui o elo mais forte que nos une às vítimas do Holocausto. No século XXI, nós não podemos aceitar a negação do Holocausto como fato histórico. Não podemos permitir que Holocaustos perpetuem à humanidade.

O que nós precisamos também discutir, no século XXI, é que, ainda que tivesse sido apenas um judeu vítima do Holocausto, nós não deveríamos estar rediscutindo a história. Mas deveríamos assumir o compromisso, enquanto cidadãos defensores dos direitos humanos, cidadãos defensores da democracia e cidadãos defensores da convivência democrática na adversidade, de dizer ao mundo, no século XXI, ao invés de discutir se houve ou não Holocausto no século XX, nós temos que afirmar, em alto e bom som, que nunca mais haverá Holocausto na face do nosso planeta. Cabe abrirmos os olhos para nosso redor e observar ainda que em nossa sociedade dita plural, a participação ainda não é igualitária a todos. Avanços estão sendo tomados via medidas de inserção,mas ainda assim a discriminação e privilégios abraçam a uns em detrimentos de outros. Isto num exemplo próprio de país miscigenado e com grande população afro descendente, mas o qual a exclusão social,mas sobretudo étnica, resiste, e uma vez mais, como cidadãos conscientes devemos estar atentos a não consolidação de sistemas que à tempos segregam e sectarizam os grupos.
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